A Vida e a História de Madam C. J. Walker

Madam C.J. Walker, nascida Sarah Breedlove, criou em 1905 uma linha de cosméticos para cabelos afro, tornando-se a primeira mulher negra milionária e ativista

Imagem: Divulgação/Netflix

Assisti há algum tempo, ainda na pandemia, à minissérie “A história de Madam C.J. Walker”, ativista social e primeira mulher milionária dos Estados Unidos a conquistar a própria fortuna, por meio da invenção e criação de uma linha de produtos capilares e cosméticos para mulheres negras.

Fiquei por bom tempo pensando nesta história e sempre refletindo que, em algum momento, essa resenha sairia do pensamento para a tela, trazendo minhas ponderações sobre a façanha dessa mulher inspiradora, e eis que está sendo gestada. Ela, uma empreendedora, do final do século XIX, ficou também conhecida por seu ativismo e cuidados com entidades assistenciais. Ela fez doações para diversas organizações, tendo sido nomeada patrona das artes. Sua rica residência em Irvington, Nova Iorque, recebia a comunidade afroamericana.

Imagem: reprodução/Google

Sua vida não difere da de muitas mulheres, especialmente as negras.  Ela então Sarah Breedlove casou-se aos 14 anos para tentar escapar da pobreza, porém era abusada pelo marido, sendo depois abandonada por ele. Desse primeiro casamento nasceu sua única filha, A’Lelia, que adotou o sobrenome de seu padrasto Walker (o terceiro marido de Sarah). Nessa época, trabalhava como lavadeira, recebendo nada mais que parcos dólares. Adquiriu uma alergia que causava quedas de cabelos.  Aventurou-se na criação de um produto capilar para seus cabelos, que ajudava no crescimento dos fios e no fortalecimento do couro cabeludo, e assim a divulgação desses experimentos começou a produzir sucesso.

Segundo o site Wikipédia, era comum entre as mulheres negras de sua época a perda de cabelos e doenças do couro cabeludo, podendo isso estar relacionado a distúrbios da pele, por aplicação de produtos químicos agressivos, como água sanitária, que foram incluídos em sabões e sabonetes. Outro fator que pode ter contribuído para a perda de cabelo seria uma alimentação pobre em proteínas e vitamina A. 

Se hoje, em pleno século XXI, as mulheres lutam por mais espaços, contra as desigualdades, por reconhecimento, pela participação política, imagine-se há mais de 100 anos. Quais as chances de uma mulher negra, filha de escravizados, conseguir deixar de ganhar pouco mais de um dólar por trouxa de roupa lavada para se tornar a primeira milionária dos Estados Unidos, em uma sociedade patriarcal, racista e machista? Na contramão da condição imposta às mulheres, Sarah Breedlove juntou confiança, coragem e muita persistência para se tornar Madam C. J. Walker e deixar um legado que permanece até hoje. Sarah, contribuiu para que milhares de mulheres negras a saissem da vulnerabilidade social e para construir sua independência, e mais do que isso, para que muitas se tornassem ativistas por direitos civis.

Vale lembrar que Sarah nasceu em 1867, dois anos depois do final da Guerra Civil entre estados do norte e do sul norte-americanos em função de divergências acerca de um modelo de desenvolvimento dos EUA. O presidente Abraham Lincoln esteve à frente desse processo, pelos estados do norte, que venceram o conflito, formalmente abolindo a escravidão e propondo uma nova estrutura agrária ao país.  Os Estados Unidos ao abolir formalmente com a escravidão em 18 de dezembro de 1865, por meio da 13ª Emenda à Constituição, acabaram com um dos maiores sistemas de produção escravistas registrados pela História. Na transição do século XIX ao XX, os EUA tiveram um importante processo de desenvolvimento econômico, e isso pode também ter favorecido os negócios de Sarah Walker.

Os Estados Unidos, como quase todas as colônias americanas, utilizavam a mão de obra de negros/as escravizados/as, fazendo o sistema econômico funcionar gerando um enorme lucro aos colonos,  uma trajetória moldada pelo racismo.  Os estupros, chicotadas, assassinatos a sangue frio, sacrifício de escravizados doentes eram práticas comuns. Inúmeros movimentos de revolta, ocorriam em várias partes do país. Conforme, resenha publicada neste portal, trago o exemplo dessa resistência – Harriet Tubman que com sua coragem e ousadia organizou e participou de 19 missões para resgatar cerca de 300 pessoas escravizadas naquele país.  https://vermelho.org.br/coluna/rascunho-automaticoharriet-coragem-e-ouadia-diante-da-tirania-excravagista/

Uma importante ressalva na série, que sugiro façam sua análise: uma dissidência surgiu entre Madam Walker (Octavia Spencer) e Addie (Carmen Ejogo), o que de certa forma rebaixa a qualidade da série. A minisérie é dirigida por DeMane Davis e Kasi Lemmons e roteirizada e adptada por Nicole Jefferson Asher.

É muito interessante conhecer a vida da empreendedora, Senhora Walker, que muda seu nome a partir do seu terceiro casamento com Charles Joseph Walker, um vendedor de publicidade de jornais. Quando Madam Walker faleceu, no começo do século XX, ela foi considerada a mulher negra mais rica da América do Norte.

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