Ácidas frutas doces

*

Os amores de chamas extintas
eu os julgava: fósseis.

Assim, temia-te novamente.
Te receiava, roto vulto
envolto num chambre fedendo a mofo.

Mas, na ciência do carinho
vale também que vulcões inativos
a qualquer momento
podem ejacular fogo.

E assim,
com a pureza e a fome
de quem volta aos pomares da infância,
voltei a ti.

E ao correr, novamente,
solto, travesso, por teu pomar
meus dentes sentiram
que o teu outono
ainda persiste em madurar
aquelas ácidas frutas doces.

É que o carinho
em nós ardera tanto
que as ondas dele
até hoje se propagam
em tudo aquilo que amo.

Os sonhos e os séculos
Adalberto Monteiro
Editora Círculo Azul Livros – edição 1991

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