Aeroporto de Goiânia, estação vexame

O casal de turistas chegou a Goiânia pelo Aeroporto Santa Genoveva. As cabeças cheias de informações sobre a bela capital e os corações agitados de expectativas. O agente de viagens, folders e panfletos venderam os encantos da cidade dos parques, o verde enorme e a qualidade de vida. É claro que o marketing turístico não mencionou a violência, os grupos de extermínio, a corrupção e a brutalidade das ruas, com recordes constantes de assassinatos.

Calaram sobre o crescimento da dengue, do fechamento de um dos maiores hospitais do estado, por causa da mortandade por infecção hospitalar. Algumas outras coisas foram silenciadas ou simplesmente esquecidas.

Mesmo assim o casal esperava gozar alguns dias da parte boa que se exibe nos bares, nos condomínios fechados, nos novos lançamentos imobiliários, na festa globalizante dos shoppings que, apesar da falta de qualquer originalidade, entretém a ânsia de consumo. Enchem de coisas as almas vazias de sentido. Não falaram da politicalha. Não mais que três ou quatro políticos goianos aparecem nas discussões nacionais. O resto faz desobriga permanente em seus quintais ou voejam ao redor do bruxuleio do poder local.

De tudo isso o casal de turistas já suspeitava. Não estavam preparados, porém, nem imaginavam que o aeródromo, o lugar de pouso da moderna aeronave em que viajavam, mais parecia uma pista clandestina, cercada de restos de construção, paredes semilevantadas, terra revolvida e dolorosas marcas de abandono.

A caminhada até o saguão deu-se aos arrastos, debaixo de chuva com o vento arrancando os precários guarda-chuvas e algum funcionário tentando socorrer os passageiros. As esteiras rústicas recebendo aos trancos as bagagens jogadas de carretas descobertas na chuvarada.
Depois da espera pela recuperação da bagagem, nenhum alívio. Ultrapassando o exíguo corredor onde se conflitam os guichês das companhias aéreas e as salas de espera com a multidão de passageiros, os viajantes dão de cara com a calçada que se abre para a rua espremida rente ao estacionamento de veículos.

A impressão que colheu os viajantes ansiosos de conhecer Goiânia é de que haviam chegado a um remoto país inominado, e não ao novo milagre gritado aos cantos do mundo pelas metáforas presidenciais.

Nem mesmo as estações do transporte rodoviário se pode comparar ao aeroporto de Goiânia. Parece uma conspiração contra a cidade com seu mais de milhão de habitantes e importante encruzilhada de comércio e cultura. Goiânia, propalada como uma moça prendada, de beleza ímpar, mostra ao visitante com despudor parte de suas cicatrizes. Se bem pensado, melhor diria o casal de visitantes – que a moça oferecida como um grande partido, com rico dote de fazendas de gado, e orgasmo imobiliário, lamentavelmente precisa de uma plástica facial. Pelo menos uma maquilagem, que disfarce o sorriso cariado e o hálito de desprezo com que acolhe os que chegam ou partem de seu aeroporto.

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