Ali Kamel, o anticapitalista?

Este texto foi produzido pela Geração Editorial a respeito de texto publicado por Ali Kamel na seção de artigos do jornal O Globo da última terça feira. O título irônico do texto é:
 
''Ali Kamel, o anticapitalista ou
Teríamos conse

Vamos inicialmente esclarecer alguns pontos importantíssimos em relação
ao artigo de Ali Kamel.


 


1- Quem seleciona os livros didáticos não é o MEC. As coleções
didáticas são selecionadas por diversas universidades conceituadas
(notórios antros comunistas, é verdade).


 


2 – Quem escolhe os livros didáticos são os professores. Mais de 50 mil
professores por todo Brasil analisaram as dezenas de coleções de
história disponíveis e escolheram livremente a coleção Nova História
Crítica como a melhor coleção.


 


3 – A coleção Nova História Crítica é um sucesso ainda maior no mercado
particular, ou seja, nas escolas privadas, que sequer dependem do MEC
para escolher seus livros.


 


Considerando estes três pontos, perguntamos: terão errado todos estes
50 mil professores? Saberá o senhor Ali Kamel escolher melhor que eles?
O que devemos fazer com esses milhares de professores que preferem a
obra do professor Mario Schmidt às demais? Demitimos? Reeducamos
ideologicamente? Devem ir para o pau-de-arara, como nos bons tempos da
ditadura e do CCC? E os livros que eles já escolheram? Queimamos os
livros em praça pública? Enfim, como incita Ali Kamel, algo precisa ser
feito. Organizemos já uma marcha com Deus pela Família, Tradição e
Propriedade!


 


Pois não podemos mais aturar os 50 mil professores em todo o Brasil que
consideram, entre dezenas de coleções disponíveis, a Nova História
Crítica do professor Mario Schmidt a melhor de todas, tornando a
coleção o maior fenômeno editorial didático de todos os tempos.


 


Porque este, sim, é o maior crime da coleção Nova História Crítica: ser
um grande sucesso dentro do mercado capitalista! (Olhe aí as terríveis
táticas gramscianas em ação!)


 


Para quem não conhece, é interessante saber que no mercado de livros
didáticos existe uma concorrência absolutamente livre e legítima entre
as editoras. Quem escolhe os livros para as crianças é a pessoa mais
capacitada para isso: o professor. Nesse segmento, o livre mercado vem
funcionando a pleno vapor; uma editora tentando fazer um livro melhor
do que a outra. Quem tem o melhor livro leva a maior fatia do bolo.


 


Porém, o senhor Ali Kamel, como todo bom porta-voz do capitalismo real,
odeia que o livre mercado funcione como um livre mercado. O senhor Ali
Kamel acha que o Estado deve intervir fortemente nessa área. O governo
deve censurar livros de determinado matiz ideológico e impedir que os
professores escolham livremente seu material didático para nossas
crianças. (Ah, as nossas crianças! Para Ali Kamel, molecada assistindo
a cenas de sexo na novela, tudo bem. Mas livro de esquerda escolhido
livremente pelo professor não pode.)


 


O professor Mario Schmidt é notoriamente um severo crítico do
capitalismo. Para Ali Kamel, olavetes, reinaldetes e ''nova direita'',
isso, atualmente, é um pecado mortal – onde já se viu? Um sistema tão
bonitinho, tão limpinho e responsável, como é possível que não se
admita que o capitalismo é o sistema econômico perfeito, para não dizer
o sistema econômico terminal da humanidade. Quem ousaria levantar
críticas ao capitalismo e – horror, horror! – encontrar qualidades no
socialismo?


 


Mas é muito estranho que justamente onde o sistema capitalista deveria
atuar de maneira exemplar, ou seja, na livre concorrência, na igualdade
de oportunidades no mercado, onde o melhor produto vence, o senhor Ali
Kamnel murche em seu fervor capitalista.


 


No mercado de livro didáticos, a opinião do mais abalizado consumidor –
o professor – não deve ser respeitada e o Estado deve intervir
diretamente para eliminar o campeão da livre concorrência, se a
ideologia deste não se coaduna com a das Organizações Globo. É nisto
que acredita o senhor Ali Kamel, o verdadeiro o anticapitalista.


 


—-


 


PS – É curioso que o maior veículo de ideologia do Brasil, a Rede
Globo, venha reclamar da edição ideológica do material histórico. Ali
Kamel cita vários trechos do Nova História Crítica no seu artigo. O exíguo espaço certamente o impediu de citar, entre outras, a página 319 do referido livro, que conta a história da edição do debate LULA X COLLOR feita pela Globo no Jornal Nacional. O que será que Ali Kamel achou deste
trecho? O que ele acha que o Estado deveria fazer com uma emissora que
''trabalha a cabeça das pessoas'' desta forma? A mesma coisa que ele
sugere que faça com livros didáticos?

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho