Amantes do burguês
O conteúdo da denúncia feita pela jornalista Miriam Dutra sempre foi do conhecimento da maioria dos profissionais dos primeiros times da grande imprensa tupiniquim. Era quase público e notório o caso dos dois. Só não vinha à tona por razões diversas, inclusive a de que se tratava de assunto de foro íntimo do então poderoso macho.
Publicado 23/02/2016 15:57
O teor da trama seria digno de enredo de Balzac, Tolstoi, Victor Hugo, Eça… Ou quem sabe alvo das conversas de Bouvard e Pécuchet, na obra inacabada de Flaubert. Nos ambientes da burguesia de então, descritos por eles, ter duas mulheres ou dois maridos era um tanto comum.
No caso atual, porém, não tem ficção nenhuma, é a realidade nua e crua. Afinal, o cara em questão não um qualquer. É sociólogo, prefere falar em francês e foi presidente da República por dois mandatos. E usava uma empresa apaniguada, a Brasif, pra pagar as contas da amante na Espanha. Assunto pra Polícia Federal, pra começar.
O livro “Diário da Presidência”, de autoria do próprio FHC, é apresentado como de memórias, ou autobiográfico. Segundo a editora Companhia das Letras, serão quatro volumes.
No primeiro, já nas livrarias, o ex-presidente não fala uma linha sequer de conluios com a empresa privada, concessionária de seu governo, pra escamotear o sustento de amante e do filho que ela diz ser dele.
Tampouco se refere ao apartamento que ele comprou, lá na Europa, pro filho que ele diz ser só dela. Quem sabe nos próximos volumes ele se lembre.
De qualquer forma, o episódio deixa desolados outras e outros amantes que, na mídia ou na Justiça daqui, sempre o protegeram. São colunistas de jornais, blogueiros, comentaristas de rádio e Tv e membros de todas as esferas do Judiciário, inclusive do Supremo Tribunal Federal (STF), onde está o líder-mor do fã-clube.
Uns jornalistas chegaram a insinuar que haveria um acerto financeiro entre o PT e Miriam, pra ela espalhar rapé no ventilador. Ignoram a angústia de uma mulher que disse não querer morrer com uma caixa-preta na alma. E o pior é que esses mesmos profissionais antes diziam proteger a pobre amiga.
No STF, tem a figura do ministro Gilmar Mendes, nomeado pelo amigo FHC, que chega ao extremo de pregar suas posições políticas até em entrevistas à imprensa. E as expressa de modo subliminar em seus votos naquela corte.
Mas, enfim, são amantes amargurados. Negociatas à parte.