As muitas trincheiras do governo Lula. Por Luciano Siqueira

Tendo em perspectiva quatro anos de mandato e o tamanho dos escombros herdados do desastre bolsonarista, não há como caminhar sem travar uma batalha a cada instante. 

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Governar um país da dimensão e da complexidade do Brasil obviamente não é simples.

Basta examinar a proposta de programa de governo registrada no TSE pela Federação Brasil da Esperança (PT-PCdoB-PV), calcada na dupla intenção de reconstruir o estado democrático de direito e retomar a senda de um novo projeto nacional de desenvolvimento. 

Em seguida, na construção da frente ampla, social e partidariamente assentada, essa proposta se alargou, complexificando-se mais ainda. 

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É a realidade que pede. E o tamanho da empreitada. 

Lula se elegeu (por margem muito apertada) estribado nesse ideário. E governa sob fogo cruzado, aberto ou dissimulado.

Tendo em perspectiva quatro anos de mandato e o tamanho dos escombros herdados do desastre bolsonarista, não há como caminhar sem travar uma batalha a cada instante. 

É preciso ganhar terreno, condições de execução dos propósitos programáticos. E esse terreno se amplia ou não a cada batalha cotidiana. 

Em linguagem militar, um misto de guerra de guerrilha e guerra de posição. 

Basta uma olhada rápida no noticiário cotidiano.

O governo peleja ainda na trincheira anti golpista e ao mesmo tempo está às turras com a presidência do Banco Central, que teima em manter a política monetária de caráter recessivo como único modo (sic) de conter a inflação; tenta avançar na ampliação da sua base parlamentar e, ao mesmo tempo, constrói uma nova equação entre o governo e as Forças Armadas. 

A lista completa é muito mais extensa.

O presidente fala diariamente ao povo, no intuito de compartilhar seus propósitos com a banda da sociedade que o apoia e com a parcela que nele não votou, mas é suscetível de mudar de posição. Um meio de se respaldar socialmente e, pouco a pouco, melhorar a correlação de forças. 

Na outra ponta, o papel de “inimigo principal” é exercido por um consórcio informal constituído pelo rentismo, por uma parcela expressiva e retrógrada do agronegócio e pela grande mídia monopolizada. E, à sorrelfa, a resistência fardada. 

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A variável tempo — as expectativas da maioria da população, diga-se — pede eficiência e agilidade. 

Evidente que o presidente da República tem a noção exata do tamanho dos desafios e sabe por onde caminhar. 

Sabe inclusive que não é possível enfrentar todos os obstáculos ao mesmo tempo.  

E que é preciso neutralizar algumas resistências, quando não — melhor ainda — agregar novos aliados.
 
A retomada das atividades econômicas, apoiada principalmente na reindustrialização, é sem dúvida fator decisivo para o sucesso do governo.

É por onde a maioria da população pode voltar a ter trabalho, renda e consumo.

Isso permeia direta ou indiretamente todas as trincheiras nas quais o governo guerreia nesse instante. 

E será um fator fundamental na conquista de parcelas expressivas dos milhões de eleitores que nas eleições passadas se perfilaram no antipetismo.  

À parcela mais ativa dos apoiadores do governo cabe acompanhar a situação, pari passu, tomar pé do que acontece e travar a batalha de ideias.

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