Boi Bumbá e a criatividade do Caboclo da Amazônia

O azul e o vermelho viraram cores predominantes na Amazônia no final do mês de junho, durante o 45º Festival Folclórico de Parintins. O azul sobressaiu-se ao vermelho com a conquista do título deste ano pelo Caprichoso com uma diferença de 10,2 pontos em cima do boi contrário. O “Canto da Floresta” – tema do Caprichoso, foi mais forte que a “Paixão” – tema defendido pelo Garantido na arena do bumbódromo, conclamando o Caprichoso pela 19ª vez.

Peço permissão à nação campeã para divagar sobre o tema do boi contrário: a paixão, um sentimento impetuoso, vivo como o encarnado do Garantido que tende a evoluir para um sentimento mais sereno: o amor, sentimento que move centenas de pessoas, artistas anônimos que se doam, abusam de sua criatividade cabocla, inventam arte e tecnologia com os poucos recursos e estudos que têm e que, provavelmente, só serão “descobertas” e se forem, daqui a algum tempo pelos grandes inventores.

Mesmo quem nasceu em Parintins ou já está acostumado a assistir o festival todos os anos surpreende-se com o “poder criador” dos artistas de Parintins, capazes de fazer seres flutuarem em pleno bumbódromo, alegorias desenvolverem movimentos como se estivessem vivas. Essa capacidade criativa do parintinense, hoje, é “exportada” para as escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo. É comum ouvirmos nas narrações televisivas que aquela alegoria mirabolante foi desenvolvida por um “artista do boi de Parintins”, associando à Ilha a marca da criatividade e ousadia, numa espécie de “tecnologia made in Parintins”.

A grandiosidade do festival reforça o resgate cultural do Amazônida, que tem suas histórias, usos e costumes transmitidos nacionalmente por um canal de televisão. Apesar do esforço da mídia nacional para entender e explicar em apenas três noites detalhes do dia-a-dia dos povos da floresta, o Brasil inteiro e – porque não dizer o mundo – sabe da importância do festival de Parintins para difundir a vida na Amazônia.

Por sua vez, o parintinense vê no festival não apenas a oportunidade de mostrar sua arte, mas o momento de alavancar a economia do município, com a ampliação da indústria hoteleira, do movimento no comércio e na indústria de alimentos, geração de novos postos de trabalho, acesso a crédito, entre outros. A popularidade internacional da festa e a criatividade do povo credenciam Parintins a receber inúmeros recursos oficiais do Governo Lula e do Governo Omar Aziz, especialmente na área da educação.

Parintins é, depois de Manaus, o município que mais oferece vagas no ensino superior. Hoje estão presentes no município a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e o Instituto Federal do Amazonas (IFAM). Além de diversos cursos de graduação, Parintins oferece também curso de mestrado, motivo pelo qual a terra do boi bumbá também está sendo chamada de “Cidade Universitária”, para onde se dirigem, anualmente, dezenas de jovens de municípios próximos a fim de ingressarem na universidade.

Essa possibilidade de vislumbrar dias melhores através da educação colocou Parintins entre os municípios amazonenses com melhores resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2009. Com todo investimento em educação, a festa de Garantido e Caprichoso transforma-se a cada ano em um grande espetáculo rico em detalhe, criatividade, beleza, encanto e paixão. É por isso que hoje o mundo inteiro conhece o “Canto da Floresta” que nas noites de 25, 26 e 27 de junho ecoaram no bumbódromo de Parintins, fazendo feliz toda a nação Azul e Branca, do boi Caprichoso.

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