Bolsonaro: o truque de se livrar dos mordomos

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Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil

A queda de Ernesto Araújo (Ministério de Relações Exteriores) segue a mesma lógica da degola de Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde: fingir que está mudando para continuar desgovernando o país. Como de costume, Bolsonaro não reconhece seus erros e incompetência, preferindo entregar a cabeça dos “mordomos” que nada mais fizeram do que cumprir cegamente suas (des)orientações.

Isso faz com que os próximos vivam um dilema shakespeariano de ser ou não leal às suas diretivas, na medida em que nem a “lealdade canina” ou uma postura mais técnica lhes assegura estabilidade, como acaba de ser evidenciada pela demissão do General Fernando Azevedo do Ministério da Defesa, precisamente por tentar cumprir o que determina a constituição federal: as forças armadas são órgãos de estado e não de governo. E arrasta consigo os três comandantes das Forças Armadas: Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica).

Até onde esse diversionismo prosperará?

Qualquer análise, por mais simplória que seja, não terá qualquer dificuldade em identificar a raiz do problema: Bolsonaro. A desenvoltura ou ineficiência com que os ministros executam a política imposta por ele pode até agravar a situação, mas não o problema em si, que reside na sua tosca orientação política.

Os ministros, portanto, jamais poderão ser responsabilizados por cumprirem diretivas do presidente, salvo pelo fato de executarem ordens absurdas, de aplicarem mecanicamente as diretivas anticientíficas, antidemocráticas e ideologicamente reacionárias impostas por Bolsonaro e, ademais, por não entregarem os cargos quando as consequências negativas dessa política para o país estão sobejamente evidenciadas.

E é isso o que explica o desastre no enfrentamento da pandemia do coronavírus, a tragédia na questão ambiental e a truculência com que ele combate e persegue adversários.

Assim, enquanto Bolsonaro não for removido da cadeira de presidente, o país não terá paz, sossego e tampouco tranquilidade gerencial para o combate à pandemia e a retomada da economia, sem mencionar a inadiável exigência de ações governamentais estratégicas, até o presente absolutamente inexistentes.

Aliás, alguém conhece uma grande obra de desse governo? Tudo o que se ver são provocações contra a China (maior parceiro comercial do país) e agressões pueris e tresloucadas aos países europeus pressionados internamente pela pauta ambiental.

A consequência dessa estupidez é o completo isolamento do país e dificuldades mundo afora, no aspecto sanitário, ambiental e econômico. No plano interno a completa rendição de Bolsonaro à velha oligarquia, que habilmente usa a direita parlamentar (aqui apelidada de “centrão”) para exigir o cumprimento de sua pauta, expressa nas “cabeças dos mordomos” que tem recebido na bandeja da fisiologia. O próximo é o do meio ambiente.

Mas, atenção, ele não se rendeu ainda. Suas manobras têm duplo sentido: por um lado revelam fragilidades e, por outro lado, expressam uma tentativa de recrudescimento de sua agenda reacionária, como sinaliza a sua tentativa de colocar o Ministério da Defesa a serviço de sua concepção ditatorial.

É como se ele estivesse se “pintando para a guerra”, tal qual as tribos rivais.

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