Cel. Ustra: além de criminoso, é covarde, mentiroso e cínico

Depois de tornados públicos documentos do Departamento de Estado norte-americano dando conta da participação direta ianque na preparação, coordenação e financiamento do golpe de Estado no Brasil, era de se esperar que os militares golpistas e demais viúvas da ditadura mudassem os argumentos para justificar o crime de lesa-pátria que, na realidade, serviu tão somente à classe dominante – banqueiros, industriais, comerciantes, latifundiários – e principalmente ao imperialismo estadunidense.

Os militares golpistas se reuniam na embaixada dos Estados Unidos, em Brasília, sob o comando do embaixador ianque Lincoln Gordon.

Mesmo com o irrestrito apoio da velha mídia conservadora, venal e golpista na campanha de alienação do povo, as viúvas da ditadura militar não conseguem mais encobrir o sol com uma peneira, mas ainda assim alguns teimam em afrontar a inteligência dos brasileiros, e o mais descarado de todos é o coronel reformado do Exército, Carlos Alberto Brilhante Ustra, o maior de todos os torturadores, só comparável ao execrável delegado do Dops paulista, Sérgio Paranhos Fleury.

Na última sexta-feira, 10 de maio, ao depor perante a Comissão Nacional da Verdade (CNV), em São Paulo, o coronel Ustra deu um show de hipocrisia. Primeiro, conseguiu na Justiça uma liminar para permanecer calado; depois, quando decidiu falar alguma coisa, foi para mentir desbragadamente e ainda fazer apologia do golpe militar que resultou na terceira maior tragédia vivida pelo povo brasileiro que foi a ditadura militar que durante 21 longos anos infelicitou a vida da Nação. As duas primeiras tragédias foram os mais de 300 anos de escravidão dos nossos irmão negros e a ditadura do Estado Novo. Depois de se dizer inocente e acusar a presidente Dilma Rousseff de ter pertencido a quatro organizações terroristas, Ustra foi desmascarado pelo vereador Gilberto Natalini (PV-SP) que afirmou ter sido torturado por ele.

Com a prepotência e arrogância característica de todo aquele que se considera superior aos demais, o coronel torturador ainda é um tremendo covarde. Aliás, é redundante tachar torturador de covarde, pois é esta a sua principal característica. Ele se negou a ser acareado com o vereador Gilberto Natalini, dizendo que não faz acareação com terrorista. De bate pronto, o vereador do PV interrompeu a fala de Ustra gritando: “Sou um brasileiro de bem. O senhor é que é terrorista. Eu fui torturado pelo coronel Ustra”. Na época, Ustra era major.

Antes do coronel criminoso, o vereador paulistano prestou depoimento à CNV e enfatizou que Ustra sempre foi muito presente nas sessões de tortura. Ele narrou um episódio no qual foi colocado nu por Ustra dentro de uma poça d’água com fios de choque amarrados ao corpo.

Disse o vereador que certa vez, durante uma sessão de tortura, o coronel chamou seus comandados para que “eu fizesse uma sessão de poesia. Durante horas ele ficou me batendo com uma vara. Outros vinham e me davam telefone (tapa com as mãos nos ouvidos) e muito eletrochoque, ressaltou Natalini, lembrando que compunha poesias de protesto contra a ditadura.

O criminoso torturador teve o descaramento de dizer que o que fez foi para defender a democracia e livrar o País do comunismo, e que sob o seu comando ninguém foi morto sob tortura nas dependências do DOI-Codi do II Exército de São Paulo, no período de 1970 a 1974.

Contra todas as evidência e provas cabais, disse ainda que não se praticava tortura no Brasil e que os opositores do regime militar que morreram foi em combate ou atropelados. Ora, esse coronel criminoso, covarde, mentiroso e cínico é o mais citado entre os torturadores, e há centenas de testemunhas provando a participação dele nas covardes sessões de torturas. Até mesmo ex-agentes da repressão afirmam ser ele o maior torturador fardado.

O advogado, ex-ministro da Justiça e ex-defensor de presos políticos, José Carlos Dias, que é membro da CNV, informou que defendeu mais de 500 presos políticos e a grande maioria foi vítima do coronel Ustra. Observou ainda que defendeu pessoas que foram mortas sob as ordens de Ustra. Mentindo o tempo todo, o coronel torturador afirmou que Frederico Eduardo Mayr, um dos assassinados sob tortura no DOI-Codi do II Exército, foi atropelado por um caminhão.

O momento mais tenso da reunião foi quando o ex-procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, um dos membros da CNV, leu dois documentos sobre 45 mortes dentro do DOI-Codi paulistano em outubro de 1973, e outras 47 em dezembro do mesmo ano, portanto quando Ustra comandou aquele centro de tortura. O coronel, transtornado, gritou que sob seu comando ninguém foi morto dentro do DOI-Codi, mas em combate.

O dirigente do Partido Comunista do Brasil, Carlos Nicolau Danielli, foi sequestrado no dia 28 de dezembro de 1972, às 19 horas, na Rua Loefgreen, no bairro de Vila Mariana, na capital paulista pelos agentes do DOI-Codi/SP, para cuja sede Danielli foi levado, sendo barbaramente torturado sob o comando do Cel. Ustra, vindo a falecer no quarto dia com quase todos os ossos quebrados. Danielli afirmava que sabia de tudo o que seus algozes queriam saber, mas não diria nada. “É disso que vocês querem saber? Pois é comigo mesmo, só que eu não vou dizer”. Ainda afirmou diversas vezes que “Só faço o meu testamento político”.

Como testemunhas do assassinato de Danielli sob tortura há os depoimentos prestados à Auditoria Militar pelo casal César Augusto Teles e Maria Amélia de Almeida Teles, que foram torturados juntamente com ele. Há ainda declarações do professor da Universidade Federal do Ceará e ex-preso político José Audi Pinheiro, informado por um torturador, na Polícia Federal do Ceará, que Danielli havia sido exterminado. O anúncio da morte da Carlos Danielli foi feito através de uma nota oficial dos órgãos de segurança, que dizia ter sido morto mais um “terrorista” ao tentar fugir quando era levado a um encontro com um companheiro.

Após ter deixado o comando do DOI-Codi do II Exército, ali foram assassinados muitos outros filhos do povo, destacando-se o jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, e o operário Manoel Fiel Filho, em janeiro do ano seguinte, fatos que levaram o ditador de plantão Ernesto Geiser a exonerar o general Ednardo D’Avila do comando do II Exército. Isto porque a morte dos dois teve ampla repercussão nacional e internacional.

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