Cientistas também repudiam Veja

Impressionante a capacidade que tem o semanário Veja de promover desafetos. Um panfleto em forma de revista que despeja semanalmente linhas e linhas de intrigas, calúnias e outros tipos de impropérios contra todos os que não comungam de sua linha editorial, claramente reacionária e de direita.

O tal dossiê supostamente encomendado pelo Partido dos Trabalhadores para “espionar” o seu candidato a presidente José Serra é o último factóide criado por Veja. Mas se enganam aqueles que pensam que Veja persegue seus opositores ideológicos apenas no campo político eleitoral. A pseudo-revista faz questão de marcar posição conservadora em diversos outros segmentos.

Seja em questões esportivas, ambientais, culturais ou qualquer outra área em que haja disputa de idéias e projetos, Veja se apega à visão de mundo comum à dos países imperialistas e suas congêneres estrangeiras.

Como Veja é desonesta, ela própria parte do pressuposto que todos os setores da sociedade seguem o seu comportamento.

Foi assim que Veja protagonizou uma das mais vergonhosas manifestações de preconceito contra os indígenas brasileiros, na matéria intitulada “A farra da antropologia oportunista” publicada no mês passado.

Eivada de declarações discriminatórias e mentirosas, chegou-se a manipular dados e inventar que menos de 10% das terras brasileiras estariam livres para usos econômicos, pois segundo seus autores, 90% estariam em mãos de indígenas, quilombolas e unidades ambientais. Pobres latifundiários brasileiros, com tão pouca terra para produzir.

No decorrer do texto há afirmações de que “a maioria dos laudos (encomendados pela FUNAI) é elaborada sem nenhum rigor científico e com claro teor ideológico de uma esquerda que ainda insiste em extinguir o capitalismo, imobilizando terra para a produção”. Ou ainda que “no governo do PT, basta ser reconhecido índio para ganhar Bolsa Família e cesta básica”. Segundo Veja “o governo gasta 250% mais com a saúde de um índio – verdadeiro ou das Organizações Tabajara – do que com a de um cidadão que (ainda) não se decidiu a virar índio”. Tudo isso em meio a subtítulos como "os novos canibais", "macumbeiros de cocar", "teatrinho na praia", "made in Paraguai", "os carambolas", que, como afirma a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) “explicitam o desprezo e o preconceito com que foram tratadas tais pessoas”.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) saiu imediatamente em defesa dos pesquisadores atacados em “respeito à atuação profissional do quadro de antropólogos disponível no Brasil, formados pelos mais rigorosos cânones científicos e regidos por estritas diretrizes éticas, teóricas, epistemológicas e metodológicas, reconhecidas internacionalmente e avaliadas por pares da mais elevada estatura científica, bem como por autoridades de áreas afins”. Em nota, a SBPC assinala ainda que tal matéria registra “precedentes de jornalismo irresponsável por parte da referida revista, caracterizando assim um movimento de indignação que alcança o conjunto da comunidade científica nacional”.
É assim que Veja, entre um dossiê e outro, vai deixando a máscara cair, escancarando sua face autoritária, reacionária e antiética. No final das contas, uma só coisa parece lhe importar: varrer do poder todo e qualquer projeto mudancista que não contemple seus interesses mais vis e neoliberais.

Por isso mesmo a resposta de Lula aos jornalistas dizendo que todos sabem de onde parte o jogo sujo. Nem precisou dizer qual o principal instrumento de divulgação de toda essa sujeira.

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