Columbine é aqui

Na coluna passada, comentamos a premente necessidade de regulação e controle social do maior foco irradiador da violência, da manipulação e da dissimulação instituído pelo império da mídia. No Brasil, este império reproduz o modelo invasivo instituído nos EUA (Estados Unidos da América) sob o controle resumido a quatro famílias: Marinho (Organizações Globo), Frias (Folha de São Paulo), Civita (Editora Abril, com a revista Veja) e Mesquita (O Estado de São Paulo) — proprietárias de quase toda a mídia brasileira. Sua persistência corrosiva e nefasta ação cotidiana sobre a vida das pessoas é antagônica às necessidades do País e de seu povo.

O padrão cultural da invasiva manipulação ideológica percorre a construção dos personagens novelescos, de um modo tal que a arte (contrária à transformação) serve à deformação da vida, à propagação da falta de caráter e dos baixos padrões morais das elites brasileiras, em sua forma propagandística, como sói acontecer nas “novelas das oito” — que patrocinam a glorificação dos desvios de comportamento como referência para formação da juventude, influindo igualmente sobre os estratos mais desajustados de uma sociedade desigual e marcada pelas iniquidades construídas.

Os demais grupos de comunicação e alguns jornais disputam audiência — invariavelmente submetida à pauta hegemônica. De um modo tal que, numa tragédia como a da chacina na escola de Realengo, dificilmente outro assunto ou abordagem pode ocupar o noticiário em todo o País. É a pauta do fomento à violência enquanto máxima dessa operação midiática — em permanente evolução e descontrolada expansão. Pela via da banalização, vai se estabelecendo no Brasil a manchete do crime como algo rotineiro e integrado à cultura nacional.

Foi nesse enquadramento que o País sofreu gradualmente a influência de padrões de comportamento distintos da sua formação social, política e cultural.
Mas, ainda assim, apenas a sociedade brasileira, após a passagem de Barack Obama pelo Brasil e pelo Rio de Janeiro, poderia ser surpreendida de modo tão impactante pela ocorrência do terrorismo na escala que se reproduz com frequência nas escolas, a exemplo de Columbine — nos EUA (Estados Unidos da América), artífice na produção e propagação do terrorismo original, de Estado ou individual, no planeta.

Columbine é aqui

Lá, o dedicado império da mídia cumpriu rigorosamente seu pioneiro papel auxiliar na institucionalização desta violência, um fenômeno que pertence hoje ao outrora glorificado estilo de vida americano (American Way of Life). De tal modo que logrou conquistar uma sólida oposição na sociedade, que reage ao envio de tropas de jovens aos massacres promovidos no mundo, como é o caso da ofensiva contra a Líbia — desenhada para a posteridade como genocídio ordenado por Obama no Brasil às vistas da juventude brasileira.

E, em micro e larga escala, é sobre a juventude que se derrama o fumegante caldeirão da violência numa escala nunca vista pela humanidade.
Ana Flávia Ramos, professora e historiadora da Unicamp (Universidade de Campinas) comentou, num artigo intitulado “Nenhuma escola é uma ilha”, a tragédia da escola de Realengo, recorrendo ao documentário Bowling for Columbine (2002), de Michael Moore, cineasta norte-americano e sua interpretação para o atentado de Columbine:
“Moore, ao invés de repetir os clichês da mídia, foi implacável na destruição do senso comum das justificativas moralistas para o evento. Item por item, desde a desagregação da família, [o caso] Manson, até a polêmica questão do porte de armas foram desconstruídos em sua narrativa. O foco centrou-se em respostas muito mais interessantes, localizadas não nos dois jovens assassinos, mas na sociedade americana.

O imperialismo militarista dos Estados Unidos, a ação violenta em outros países, a política do medo (incentivada pelo Estado e pela grande mídia), que reforça e superestima dados sobre a violência urbana, sobre o fim de mundo, e, principalmente, a intolerância com todo tipo de diferença. Racismo, preconceito, homofobia, conflitos religiosos e luta de classes são só alguns dos ingredientes do caldeirão de ódios em que se transformou a sociedade americana”.

Bullying é a cara do capitalismo

Então, entre os brasileiros, a reprodução dessa penetrante patologia é indissociável da economia, da política e da cultura capitalista e imperialista — que valoriza ao extremo a aparência em prejuízo da essência, a máxima do ter e o profundo desprezo pelo ser, o aspecto enquanto tônus fundamental.

Assim, as explicações para as raízes da tragédia jamais poderiam se resumir ao fenômeno do bullying (no ato de molestar, achincalhar e humilhar), mas apresentam raízes estruturais vincadas na desigualdade e seus inevitáveis desajustes sociais — reproduzidos e massificados com o concurso vital do império da mídia.

O dilema surge na atual etapa da vida política do País como uma questão crucial do processo democrático no qual se insere a crescente necessidade da distribuição da renda e dos avanços sociais rumo a um regime que elimine a profunda desigualdade e suas consequências — umbilicalmente associadas à carência dos investimentos em educação e saúde, às raízes da violência, da criminalidade, do reinado do narcotráfico, da insegurança generalizada que envolve a população.

São necessidades antagônicas à persistência corrosiva do império da mídia e de sua nefasta ação cotidiana sobre a vida das pessoas no Brasil e no mundo.

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