Com Carinho, ao Partido Comunista do Brasil: minha escolha de vida

O Partido me apresentou o mundo. Um mundo real, sem a maquiagem do capitalismo. Me abriu os olhos e a mente. Permitiu que eu passasse a olhar a sociedade a partir de suas contradições

Foto: Arquivo/PCdoB

Cem anos de história. Esse é o Partido Comunista do Brasil, que a partir de 1962 passou a ter a sigla de PCdoB, e que hoje novamente é chamado à luta contra o fascismo. A dimensão da importância desse partido na história do Brasil está, a meu ver, ainda subestimado, provavelmente porque é um partido que se assume claramente como defensor das ideias que tem como objetivo, a construção de um país diferente. E isso num mundo dominado pela propaganda anticomunista, a permanência do partido como um protagonista, mesmo com todas as dificuldades impostas pelo sistema, já mostra claramente como esse pequeno partido tem um tamanho político muito além de seu tamanho eleitoral.

Não vou resgatar a história desse partido, visto que muitos historiadores e cientistas políticos, já vem falando sobre e, nessa semana, em que o partido comemora o centenário, as lembranças e as homenagens ao partido mais antigo do Brasil já são o suficiente para os leitores. Mas então o que dizer sobre esse partido? Como devo me posicionar?

Acho que o próprio fato de que este partido foi escolhido por mim, aos 22 anos, portanto há trinta e sete anos atrás, já o torna parte da minha vida. Me aproximei do Partido no final da Ditadura a partir das leituras prévias de Marx, obviamente o Manifesto Comunista (escrito por ele e Engels) e quando me acheguei ao partido, o país estava se redemocratizando.

E nesses 37 anos tivemos uma renúncia do presidente, no caso Collor (1992); a implementação de um projeto de desmonte do Estado (1995-2002); a tentativa de implementar um projeto progressista e democrático (2003-16); um Golpe de Estado (2016) e a implementação, a fórceps de um programa de destruição completa do Estado brasileiro em conjunto com a chegada ao poder de uma gangue fascista (2016- ), ou seja, é um período histórico bastante turbulento.

Não vou nem falar do história do PCdoB ocorrida antes de 1985. É tão grande que não cabe nessa coluna. Não vou falar da história do PCdoB de 1985 para cá. É tão grande que não cabe nessa coluna. O que me resta é mostrar que o Partido está ligado à minha vida, em todos os aspectos.

Nesses 37 anos, a contribuição do Partido para a minha formação cidadã foi essencial. Um Partido, de natureza científica, me impeliu aos estudos e acendeu a chama da busca pelo permanente conhecimento. Mas o PCdoB não é um “curso de marxismo”. Não se trata apenas de estudar o marxismo e conhecer o leninismo. O Partido me apresentou o mundo. Um mundo real, sem a maquiagem do capitalismo. Me abriu os olhos e a mente. Permitiu que eu passasse a olhar a sociedade a partir de suas contradições e dessas contradições, suas crises permanentes e, por conseguinte, possibilitou que eu escolhesse de que lado ficar.

Com o PCdoB ao longo da minha trajetória, sai do idealismo, onde vivia desejando um “país comunista e com a Ditadura do Proletariado” implementado imediatamente; fui aprendendo o conceito de tática e estratégia, a partir das ações escolhas do Partido; e, por fim, já na velhice, absorvi a concepção dialética pela qual se move o Partido e que, às vezes, irrita os mais jovens e enfurece os que se movem pelo “fígado”.

Nunca abandonei o Partido. Já tive raiva, decepção e cheguei a ficar amuado com suas decisões e escolhas, mas nunca cogitei deixá-lo. Por quê? Porque, nesse coletivo pude crescer como ser humano e desenvolver minha capacidade de querer mudar. Mudar é transformar, desde que essa transformação seja qualitativa; transformar, em determinada conjuntura, exige a leitura correta da correlação de forças; essa correlação de forças determina o que fazer.

Essa semana o “velhinho” mais novo do Brasil entra no segundo século de existência e este partido que participou de todos os momentos da história desse país da década de 20 para cá, se revigora para enfrentar o desafio de contribuir para que este país volte a ser uma democracia.

E depois? Recomeçar a contribuir para que este país avance e estabeleça os alicerces históricos para que, num futuro, caminhemos para o socialismo.

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