Como é belo rever “Il conformista”

O cinema do italiano Bernardo Bertolucci e do alemão Douglas Sirk

Filme "O Conformista" | Foto: Divulgação

Tive a chance de encontrar ontem na plataforma Mubi o filme de Bernardo Bertolucci “O conformista”. A sua revisão foi um grande prazer. Considerei inclusive que, além de ser um filme de extraordinária presença quanto ao seu conteúdo para a compreensão do mundo atual, é uma obra cinematográfica muito agradável, que o espectador assim, além de ganhar prazer, ganha principalmente condições para analisar as entranhas desta nossa sociedade, tão entranhada de fascismo; um fascismo que desde os anos 70, quando o filme foi feito, já estava presente e ao invés de desaparecer ainda cresceu muito.

Bernardo Bertolucci começou a fazer cinema desde os primeiros anos 60 e fez sua filmografia até os anos 2018, quando morreu em Roma, cidade na qual havia crescido. Me recordo que às vezes pensei que Bertolucci era o último grande cineasta italiano, mas que não era tão grande quanto um Vittorio De Sica, Fellini, Pasolini, Visconti, e quantos mais que não estão na minha cabeça agora. Depois de rever agora “Il conformista” sem legenda, e ouvindo muito claramente o som do italiano, cheguei à conclusão de que sim, realmente Bernardo Bertolucci é tão grande quanto todos os outros, e não foi ou não se comercializou. Ele teve a capacidade de fazer filmes amplos em seu conteúdo, muito complexos no que dizem, mas ao mesmo tempo conseguindo que essas obras apresentassem também um elã especial com o que o público se deliciava, sem ter que cair de nível estético. Basta lembrar filmes como “Novecento”, maravilhoso, “Último tango em Paris” com Marlon Brando e Maria Schneider, e “O último imperador”. No começo de sua atividade como diretor, Bertolucci realizou vários filmes que são mais entranhados numa linguagem neorrealista, mas a partir dos anos 70 seus filmes tinham, além do espírito neorrealista, uma ambiência neopop, que se incorporava a uma forma de cinema mais internacionalizado. Sem perder, contudo, a autenticidade cultural de um italiano.

A estória de “Il conformista” foi extraída por Bertolucci do romance do escritor italiano Alberto Moravia, em uma excelente adaptação com um perfeito aproveitamento tanto da própria história, quanto dos próprios diálogos. E temos que observar o quanto os intérpretes dizem com naturalidade os diálogos e assim deixando fluir a narrativa fílmica.

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Um aspecto que poderia ser maior no filme é seu acompanhamento musical. Quem fez esse roteiro musical foi o conhecido compositor francês George Delerue, que tem entre seus filmes “Le Mépris” de Godard. Mas aqui talvez buscando uma ambiência mais popular, criou algo excessivamente melodramático e linear e simplista. Para a excelente fotografia que o filme possui, precisaria ter uma música maior e não simplesmente correta. A imagem foi criada por um dos maiores diretores de fotografia da Itália, o cineasta Vittorio Storaro. Claro que a grandeza visual de um filme como este “Il conformista” não depende só do diretor geral Bertolucci, mas de vários diretores dos vários setores.

Quero destacar um dos grandes trabalhos do ator francês Jean-Louis Trintignant, que se deixa conduzir com grandeza, embora o contexto principal seja italiano e ele francês. Trintignant se comporta muito bem tanto quando convive com o elenco em geral e na questão dramática. que é a sustentação principal do romance. E também na parte melodramática que se dá através da sua relação com a atriz Stefania Sandrelli, que vive o gozo melodramático da história.

Destaque para a grande sequência musical em que todos estão numa reunião da família burguesa, e Sandrelli dirige todos para uma belíssima ciranda sonora e visual.

Olinda, 27. 09. 22

Em Paris, Douglas Sirk Alemão

Cineasta Douglas Sirk | Foto: Reprodução

Realmente. é uma cidade que há séculos se transformou em algo especial e não só num simples lugar para se viver. Os parisienses parecem que em sua maioria trabalham em serviços não só para um, mas para a comunidade. E assim o sustento da cidade é principalmente dos transeuntes.

Agora mesmo, nesses primeiros dias de setembro as salas de cinema da cidade estão apresentando, exibindo sete filmes feitos por Douglas Sirk quando ele era ainda Detlet Sierck e vivia na Alemanha e não em Hollywood. Mas já era um cineasta formado e já mostrando sua competência antes de produzir seus melodramas inteligentes e populares nos Estados Unidos, para onde se mudou fugindo do nazismo.

Na Cahiers du Cinéma de setembro temos um bloco de matérias sobre Douglas Sirk, principalmente mostrando os dois aspectos de sua vida profissional antes em Berlim, na empresa cinematográfica UFA, e depois nos estúdios de Hollywood. Sirk foi sem dúvida o mais divulgado cineasta entre os participantes do movimento cinematográfico francês Nouvelle Vague, inclusive Godard e Truffaut. No tempo em que eles faziam a Cahiers du Cinéma nos anos 60 do século passado.

Olinda, 03. 09. 22

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