Como sair do labirinto?

Na História da República brasileira não se viu até hoje nada que reserve similaridade com o momento que ora vivemos.

Ilustração: Caio Gomez

Após mais de 1 ano de desastrosa condução econômica, política, ambiental e social desembocamos numa pandemia que acabou por agravar as chagas já criadas pelo (des)governo Bolsonaro.

Óbvio que a responsabilidade pela pandemia não é do néscio presidente da República, mas a maneira como não conduziu o combate a ela, que não colaborou nas medidas de prevenção social, de mitigação do evento em si, lhe colocam uma marca nefasta. Momentos como esse podem revelar líderes que unam uma nação, que apontem um horizonte, Bolsonaro fez o oposto. Tem enfrentado os dois outros vértices do sistema tripartite de freios e contrapesos dia após dia, é adepto da tática que a melhor defesa (algumas vezes parece até a única….) é o ataque.

É importante que se diga que Bolsonaro, apesar de tudo isso, mesmo com todo o desgaste acumulado, vai se mostrando bastante resistente, com força e prestígio próprios, alcance de massa amplo e capilaridade invejável nas redes sociais. O energúmeno perdeu o apoio de Sérgio Moro, Luiz Henrique Mandetta, João Dória, vários governadores, do próprio PSL, partido pelo qual se elegeu, amargou também resultados eleitorais adversos no pleito municipal de 2020 e, ainda assim, mantém um patamar respeitável e uma audiência fiel.

Fundamental avaliar isso para enfrentar o desafio que se impõe: o Brasil aguenta até o fim do mandato de Bolsonaro? E mais, é factível derrotá-lo em 2022? Pergunto isso porque a amplitude do lado de cá foi se dando e agravando em certa medida pela radicalização da plataforma e do discurso do lado de lá, no caso, o próprio Bolsonaro.

Cresce a sensação da necessidade de interromper o mandato pelos inúmeros crimes perpetrados pelo atual mandatário da República que já acumula mais de 40 pedidos de impeachment, mas os desafios impostos para isso passam pela boa compreensão da correlação de forças, o fascista ainda conta com maioria confortável na Câmara e Senado, resgatou prestígio com o auxílio emergencial e mantém base fiel de 30% do eleitorado. É invencível? Por suposto que não, mas o desafio não é pequeno. Historicamente, os fascistas quando alojados no poder deram muito trabalho para de lá serem arrancados… É um labirinto a ser enfrentado com tenacidade, sagacidade, amplitude e muita disposição para encontrar a saída. É um alento a derrota desse projeto nos EUA com Trump, anima, mas não significa derrota automática de Bolsonaro aqui, ajuda sim, mas não resolve.

A pandemia desarrumou muito o cenário político-econômico mundial, não há como avançar sem um real avanço da imunização de milhões de brasileiros e brasileiras. A luta em defesa da vacina e da vida ganhou uma amplitude mobilizadora que colabora e muito no alcance de um melhor entendimento de parcelas da população ainda enfeitiçada pelo bolsonarismo e seu discurso de ódio.

A esperança, a vida e a superação da crise econômica são bandeiras que os verdadeiros patriotas precisam empunhar nessa hora, necessitam organizar o povo para entender a importância de se vacinar, de reconstruir o Brasil que vai sendo destruído e entregue por Bolsonaro.

Sem a pretensão de propor receitas fáceis ou caminhos estrelados apenas faço essa avaliação da conjuntura para afirmar que falar hoje de frente ampla já é pouco, precisamos mesmo é de frente amplíssima, desprovida de preconceitos, inclusive com a presença destacada da direita, de ex-bolsonaristas arrependidos e de liberais. E talvez essa frente não baste apenas como um movimento pela democracia e pelo Estado de Direito, talvez precise alcançar conotação até mesmo eleitoral, bebendo no excelente exemplo do que vem se construindo em volta do nome de Baleia Rossi (MDB) para presidente da Câmara dos Deputados.

Tenho a impressão de que o que precisamos mesmo é de rua, de mobilização popular, de milhares mobilizados pressionando, mas aí só quando vencermos a pandemia, algo fundamental para superar esse momento que vivemos, ocuparmos as avenidas e gritarmos até a garganta doer: Fora Bolsonaro!

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