Cultura e religião

Três fatos recentes demonstram que a religião, uma das expressões culturais marcantes do nosso tempo, delimita os caminhos da humanidade.

A comoção gerada pelo ataque a redação do Charlie Hebdo, contrapondo a passividade em relação ao massacre de mais duas mil pessoas na Nigéria e o fuzilamento de um brasileiro na Indonésia, país de maioria mulçumana, não explicitaram elementos cruciais para o entendimento desses episódios que são resultados do eurocentrismo e a arrogância que o ocidente tem para com os mulçumanos, cultura que se faz questão de ignorar, discriminar e combater.

O Brasil, de maioria cristã, que tem no seu cotidiano o convívio pacífico de religiões e povos monoteístas como Judeus e Mulçumanos tem nestas conjunturas, o papel de acentuar os princípios de harmonia entre as religiões, uma vez que a intolerância religiosa, principalmente neopentecostal recrudesce por aqui, especialmente contra as religiões que matriz africana. Esta foi uma preocupação evidenciada no discurso de posse do novo ministro da cultura, Juca Ferreira, onde afirmou: “é preciso enfrentar também aqui discursos de ódio, o preconceito social e regional, o racismo, o machismo, a homofobia, a xenofobia e todas as demais formas de segregação cultural”. Lembrou: “O Brasil [é também] de Jesus e de Oxalá, de Tupã e de Iara, de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, de Yemanjá e d`Oxum” e destaca que “a cultura se afirma como um dos elementos constitutivos da própria democracia”.

Destes três fatos, indiscutivelmente condenáveis, destaco o fuzilamento de Marco Archer, traficante assumido que entrou na Indonésia, maior país mulçumano do mundo, que condena à morte o tráfico, com 13,7 quilos de cocaína. Tento impor-me um olhar isento de jornalista perguntando: quantos quilos de cocaína entram todos os dias no nosso país, de maioria cristã e, quantos morrem por aqui diariamente resultado do tráfico e consumo de drogas? Reflexões que o ocidente precisa fazer para respeitar e se fazer respeitado.

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