Derrotando o coronavírus
Um breve relato de como derrotei o coronavírus na sua primeira investida.
Publicado 21/07/2020 08:10 | Editado 20/07/2020 23:15
Os fatos
Em Manaus, na prática, não houve confinamento, salvo de uma reduzida parcelas de pessoas. Dados empíricos a que tive acesso, com testagem aleatória em grupos heterogêneos, indicam contaminação de 50, 65 e 85%, respectivamente, dessas amostras.
É o que explica porque mesmo pessoas que adotaram as medidas básicas de prevenção, como eu, acabaram contaminadas. Tudo indica que sofremos a “contaminação de rebanho”, embora haja controversa quanto a esse fenômeno entre os especialistas. O vírus está “em todo canto”.
Felizmente, eu não tive qualquer sintoma – o clássico assintomático – e, por óbvio, não tomei qualquer medicamento, especialmente a controvertida cloroquina, salvo para me livrar das 05 malárias que contraí ao longo da vida. Fiz a testagem, por acaso, ao ir ao SPA da Nova Galileia, onde uma equipe profissional zelosa e atenciosa recomendou que eu fizesse o teste, cujo resultado indicou reagente para IgM e IgG.
Infelizmente, nem todos escaparam ilesos como eu. No Brasil, o número de contaminados é superior a dois milhões e se aproxima da cabalística marca de 100 mil o número de brasileiros e brasileiras cujas vidas foram ceifadas por essa pandemia. É uma quantidade de vítimas superior a maior tragédia ambiental de todos os tempos: o lançamento da bomba atômica americana sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Dentre as vítimas da pandemia, nada menos do que algo como 100 mil casos e 3 mil mortos são de amazonenses, nossos amigos, parentes, companheiros de trabalho e de luta, com os quais nunca mais poderemos compartilhar nossas alegrias e tristezas. É uma verdadeira tragédia!
Muitos morreram por falta de assistência médica adequada, na medida em que, pela ausência de políticas sanitárias adequadas, o sistema de saúde do Amazonas colapsou e os casos mais graves não dispunham de UTI. Morriam nas unidades básicas de saúde, que obviamente não estão equipadas para essa finalidade. E no interior simplesmente não há sequer uma única UTI.
Quando a tragédia arrefecer se faz necessário, sem vinditas e demagogias eleitoreiras, que se investigue e puna os que deram causa ou contribuíram para essa tragédia, seja por ação ou omissão, tanto no plano federal quanto estadual e municipal.
O que eu fiz ou posso recomendar no enfrentamento do coronavírus?
Sem a pretensão de fazer um manual ou fornecer uma receita, até porque as medidas, responsabilidades e mesmo possibilidades são distintas para o governo, a população como um todo e para as pessoas individualmente.
O governo, nos três níveis, deverá, urgentemente, fazer testagem em massa e aferir, com certa precisão, o alcance real da contaminação para que possa adotar as medidas sanitárias adequadas, dentre as quais o necessário apoio econômico e social, tanto para a população carente quanto para as empresas que necessitam de linhas de créditos sociais. E, naturalmente, adotar orientação preventiva unitária, com base na ciência. Não é aceitável que o governo federal, os Estados e os municípios falem “línguas distintas” e, não raro, adotem comportamentos antagônicos. Sem essa providência primária, os Estados e municípios viverão, por um longo período, nesse eterno “abre e fecha” da atividade laboral.
A população, uma vez atendidas as premissas anteriores, precisa fazer confinamento, evitar aglomerações e cuidar da higiene básica. Não vai impedir, mas vai dificultar a contaminação. Não por acaso as epidemias surgiram exatamente quando a humanidade deixou de ser nômade, começou a domesticar animais, cultivar plantas e se “aglomerou” nas vilas e cidades.
E cada pessoa, individualmente, tem um papel e uma condição particular específica, seja de natureza econômico/social ou de condicionamento físico. Nessa pandemia, mais de 100 milhões de pessoas buscaram o seguro social, o que indica vulnerabilidade social extrema e necessidade imperiosa de sair em busca de meios materiais para sobreviver, o que significa dizer que, infelizmente, terão muita dificuldade de fazer isolamento social, que é a mais primária das medidas de prevenção sanitária quando se trata da propagação de vírus.
No meu caso específico, sem qualquer pretensão de fazer generalização, sempre adotei uma rotina de exercícios, ao menos três vezes por semana; comer bastante frutas; procurar tomar pelo menos uma hora de sol por dia; e, nos últimos tempos, ingerir vitaminas C e D, além de ômega 3. Esse conjunto de medidas, que certamente a maioria da população não reúne condições materiais para adotar, sem dúvidas contribuiu para dificultar os efeitos patológicos do vírus no meu organismo.
Como cada organismo reage de forma particular às infecções a que é submetido, o simples bom condicionamento físico não assegura, a priori, qualquer tipo de “imunidade”. Tive conhecimento de inúmeros casos de pessoas saudáveis que tiveram sérias complicações, algumas inclusive indo a óbito, evidenciando a singularidade de cada organismo quando atacado por um determinado patógeno. As medidas profiláticas, portanto, são essenciais e indispensáveis.
Mas a brutal concentração de rendas do capitalismo reduziu à miséria a maioria do povo, mesmo num país rico como o Brasil, o que lhe impede de ter acesso a água tratada, alimentação saudável, para nem mencionar saneamento básico.
Tal cenário, associado a estupidez do estado mínimo (congelamento de despesas com saúde e retirada de direitos dos trabalhadores, etc.) e uma gestão incompetente e irresponsável, dificultou ainda mais as já precárias condições sócio/econômica do povo e agravou, sobremaneira, o caos estabelecido com a pandemia.
O capitalismo selvagem mostrou outra faceta da sua crueldade na pandemia: total indiferença com a dor e o sofrimento das pessoas. As centenas de indústrias instaladas na Zona Franca de Manaus, e nas demais regiões do país, não asseguraram sequer a produção de respiradores mecânicos para salvar a vida das pessoas.
Se não fosse a República Popular da China – país que inicia a construção do socialismo – fornecer respiradores e equipamentos de prevenção para o mundo, incluindo o Brasil, apesar dos grotescos ataques que sofreu do governo Bolsonaro, a situação geral seria muito mais trágica.
Tirar lições da tragédia é o primeiro passo para que não repitamos os erros do passado.