Dorme-João

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A natureza fazia ar de sua graça. Nenhum vento, ou barulho. Na mata, o tico-tico não sabia do perigo que corria. A abelha Jataí, tampouco. A mosca, que não se fazia de rogada, bem que tentou farejar alguma coisa no ar. Olhou, olhou e por fim ficou limpando as patas e as asas, num misto de excitação e ansiedade. O colibri chegou até bem próximo do arbusto onde estava a abelha, o tico-tico e a mosca; atraído que foi pela formosa, perfumada, aveludada e rósea flor. No momento em que ia pousar, arremeteu-se, livrando-se da jibóia que, dissimulada entre as folhas do arbusto, aproveitou a ocasião para abocanhar de uma só vez, o tico-tico, a abelha e a mosca. A natureza fazia ar de sua graça. Nenhum vento ou barulho. O colibri sabia que o arbusto era um “Dorme – João”, e que quando seus galhos são agitados, suas folhas, murcham. E o tico-tico, a abelha e a mosca, mesmo juntos, não seriam capazes dessa proeza, de agitar os galhos, para que as folhas do “dorme-João” murchassem. Dorme-João, dorme-João!

A jibóia aprendeu assim, dissimulando-se, a sobreviver; o colibri aprendeu também, observando.
E os seres humanos também têm muito o quê aprender!

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