DURVAL NUNES – A SINFONIA DAS ÁGUAS

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 A cada novo ano penso que vou ser mais pontual nos compromissos. Vou visitar aquele amigo, escrever um texto que anda me assombrando as noites, responder as cartas que recebi. Porém não consigo tripular com segurança o calendário. O tempo escorre como um fluido pela consciência. As datas, eventos, rostos parecem se fundir num fluxo de permanência na memória. Sobre a mesa, cadeiras, estantes, esparramados pelo chão do escritório – que ainda vou organizar – livros, envelopes que clamam à minha surdez. Sinfonia das Águas é o livro do amigo Durval Nunes. Ele é filho de Itororó no sul da Bahia, mas, no dizer de Vinicius Azzolin Lena, deixou-se adotar pela região do oeste baiano. Engenheiro agrônomo com viajeira experiência, dedica-se às atividades profissionais, à agropecuária, à militância ecológica e à literatura. Sinfonia das Águas reúne textos bem representativos das preocupações do poeta. O tributo às águas encantadas da bacia do São Francisco. O apelo à defesa ambiental. Mais além o murmúrio lírico dos afetos com as pessoas e os lugares. Durval Nunes dá voz e canto ao mundo sanfranciscano. A tudo adorna com fina eloqüência bebida nas raízes fecundas de Gregório de Matos, Castro Alves ou na voz aboiada de Eurico Alves e outros menestréis da oralidade baiana. Canta os rios, suas águas, seus mitos, a ânsia coral das araras rasgando as margens. Deplora a devastação da natureza e a incompatibilidade humana para a convivência com os demais bichos da terra. Celebra as ninfas ondinas, espíritos talvez do misterioso rio das ondas incansáveis. No dia 17 de dezembro Durval lançou seu livro em Santa Rita de Cássia, às margens do Rio Preto, de águas cristalinas, decantado por José Vicente Ferreira, o Cazuza. Uma bela festa que reuniu os amigos, familiares do poeta e, a terceira sessão da Academia Sanfranciscana de Letras. Com música, discursos, declamações, o lançamento foi uma celebração e um bom exemplo da estima e das ligações que Durval cultiva como quem vai se enraizando fortemente no oeste baiano. É um dos entusiastas do Estado do São Francisco que, como uma gestação, demora no ventre da história, mas chegará seu tempo de nascer. Ali estivemos este cronista, a cantora Goiana Vieira que deu o toque lírico ao evento, e a historiadora eleuzenira Maria de Menezes, comitiva convidada do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. O livro homenageia Dr. Luiz Gonzaga Pamplona, médico e político, entusiasta do estado sanfranciscano. O prefácio é do poeta Dílson Ribeiro. Ignez Pitta de Almeida, historiadora que além do poema A Velha Ponte, assina a apresentação. Nilton Rodrigues Dourado, em sextilhas cordelinas anuncia a chegada do novo estado. Acolhe também a inspiração de Bráulio de Abreu. E em todo o texto é notável o desejo de envolver as pessoas, as coisas, os entes da região, liricamente contidos em uma sinfonia para todos os instrumentos e todas as vozes no seio universal das águas. Parabéns a Durval por seu trabalho e pelo testamento lírico que lavra à nação oestina da Bahia.

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