Fechando a boca do jacaré

Duas coisas estão acontecendo e se influem mutuamente. A primeira delas é a aceleração do crescimento econômico, com resultados crescentes do PIB, do emprego, da produtividade e da rentabilidade das empresas, sem aumento da inflação. A outra é o avanço da percepção, pelos trabalhadores, destas condições favoráveis da economia e do empenho sindical em fazer que os salários também subam.

Os reajustes dos salários, em geral, adicionam dois itens numéricos: a reposição da inflação passada e os ganhos reais (com os índices de reajustes salariais e com outras modalidades, como abonos, PLR, auxílio alimentação, etc).

A experiência brasileira de crescimento com a inflação baixa e em torno de uma meta tem garantido de uma maneira quase automática (mas sem gatilho) a reposição da inflação em cada data-base. Segundo o levantamento do DIEESE dos resultados das campanhas salariais no primeiro semestre deste ano, apenas em 3% deles não houve a reposição integral da inflação do período.

A reposição da inflação (que tem se mantido em torno da meta do governo de 4,5%) tem sido uma constante nos resultados dos reajustes.

O outro item, referente ao ganho real, apresentou no primeiro semestre, ainda de acordo com o levantamento do DIEESE, a particularidade de em 75% dos casos ser inferior a 2%, fazendo que os ganhos reais equivalessem a menos da metade da inflação (termo de comparação apenas numérico, sem nenhuma correlação econômica). No grupo superior deve-se destacar o reajuste do salário mínimo e o das aposentadorias.

Agora, no segundo semestre, o resultado das campanhas salariais recentes indica uma mudança do patamar destes ganhos reais; eles passam a valer até mais que a inflação do período. A comparação continua a ser apenas numérica mas indica claramente que, apoiados na conjuntura favorável e garantidos pela produtividade e rentabilidade crescentes, os sindicatos têm conseguido ganhos reais para os trabalhadores que ajudam a elevar a reta dos salários aproximando-a da reta da produção e fechando a boca do jacaré.

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