Frida- voa sobre nós, encanta e inspira
Para além de sua arte revolucionária, Frida lutou pelo seu país, revoltou-se e posicionou-se contra o patriarcado
Publicado 06/06/2022 11:15

Pés, para que os quero, se tenho asas para voar? (Frida Kahlo)
Surpreendentemente repleto de simbolismos, arte, cor, beleza, dor e resistência, um filme marcante como foi a vida e a obra da [vigorosa] gigante Frida. O filme “Frida, de 2002, teve seu roteiro baseado no livro biográfico de Frida Kahlo, de Hayden Herrera, foi dirigido com primor por Julie Taymor. A cativante atriz Salma Hayek, mexicana de origem como Frida, interpretou-a com energia e fibra. História linda, baseada nos fatos da vida de Frida, impactante, profunda, inspiradora de gerações, principalmente das mulheres de todo o mundo.
Uma mulher extraordinária capaz de transformar suas maiores dores em arte, produzindo beleza a partir de suas tragédias. Suas obras recebem importante influência da convivência com plantas e animais. Frida amava seu jardim, o que ela retrata nas pinturas. Em sintonia com esse mundo vegetal e animal, auto-retratava-se, em quadros marcantes da história da pintura, seja na alegria, na esperança, como ao registrar suas próprias dores físicas e mentais. Frida sofreu grave acidente de trânsito quando jovem, sequelas das quais jamais se livrou, mas isso ainda a motivava para seguir, fosse na arte como na defesa de causas sociais contra o capitalismo. Suas indeléveis cicatrizes pessoais, mas também os momentos de superação estão eloquentes em muitas de suas telas.
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O longa-metragem ganhou vários prêmios: nas categorias de melhor maquiagem e melhor trilha sonora no Oscar, ainda indicado nas categorias de melhor atriz para Hayek, melhor direção de arte, melhor figurino e melhor canção original, ganhando no Globo de Ouro na categoria de trilha sonora com a linda canção Burn It Blue. O compositor Elliot Goldenthal dedicou o prêmio à “tradição da arte política e pessoal do México”.
A pintora mexicana Magdalena Carmen Frida Kahlo Calderón foi seguramente uma das mais importantes artistas do século XX. Nascida na cidade de Coyoacán, em 1907, mudou sua data de nascimento para o ano de 1910, para prestar homenagem à Revolução Mexicana, demonstrando sua índole marcada pelas lutas e pela intensidade no desejo por transformações.
A película revela a dor imensa que acompanha Frida desde sua infância, quando foi acometida pela poliomelite, que lhe deixou uma das pernas mais curtas. Em sua adolescência, sofre um grave acidente de ônibus, provocando fraturas na bacia, na coluna, vários cortes no corpo e ainda teve um dos pés esmagados. Passa por cirurgias e sofrimentos diante de tratamentos ortopédicos violentos, que continuam durante sua vida adulta. Frida fica com sequelas extremamente dolorosas; uma delas é o sentimento de perda por não conseguir sustentar uma gestação, inclusive acometida de aborto.

Teve uma relação intensa e conturbada com Diego Rivera (1886-1957), que no filme é vivido por Alfred Molina, tendo Rivera sido cnsiderado um dos mais importantes artistas mexicanos, ícone do movimento muralista, marcado por expressões engajadas de arte, empenhadas em retratar o cotidiano da classe trabalhadora, tendo sido veiculada essa corrente artística pelo mundo com esse conteúdo revolucionário.
O casamento de Rivera, 41 anos, com Frida ocorrequando ela tinha apenas 21. A influência do artista comparece em suas telas, como as cores e a identidade nacional mexicana. Mas, a infidelidade constante de Diego Rivera leva ao sofrimento de Frida. Ela, mesmo se colocando como mulher sem preconceitos, vive relações com homens e mulheres. No entanto, Diego reproduz a ideologia patriarcal da sociedade latina. Eles retomam a relação por diversas vezes e permaneceram juntos até o fim da vida de Frida, que faleceu jovem aos 47 anos de idade.
Para além de sua arte revolucionária, Frida lutou pelo seu país, revoltou-se e posicionou-se contra o patriarcado, inspirou-se na cultura popular mexicana, explorou em sua arte questões como pós-colonialismo, gênero, classe e raça do seu país. Toda essa gama de situações da intensa vida de Frida e seus posicionamentos tem referenciado a juventude, o movimento feminista anticapitalista, antipatriarcal e antirracista no Brasil e na América Latina.
Frida militou no Partido Comunista Mexicano (PCM), atuou em círculos de ativistas políticos e artistas. Ela envolve, encanta, espanta com seus momentos de fúria quando defendia acesamente aquilo em que acreditava, em toda a sua trajetória.
Recomendo a todas e todos conhecer o México, especialmente na cidade a Casa Azul, agora conhecida publicamente como o Museu Frida Kahlo
https://www.museofridakahlo.org.mx/en/the-blue-house/

“Frida”
Produção: EUA, 2001
Direção: Julie Taymor
Com: Salma Hayek, Alfred Molina, Ashley Judd, Geoffrey Rush, Antonio Banderas e Edward Norton