O lugar de Milton Gonçalves

O destacado papel de Milton Gonçalves para a cultura brasileira e a cultura muçulmana em “The reluctant fundamentalist”, de Mira Nair

Foto: Divulgação/TV Globo

Certamente, temos que ter um lugar neste mundo. E um dos mais significativos no Brasil será do ator Milton Gonçalves. Tem sentido dizer que ele era um ator negro agora. Ele marcou praticamente quase toda segunda metade do século XX pela sua presença. Ele não foi importante exclusivamente pelo seu trabalho como ator. Foi um notável agitador cultural. E se o nosso país ainda não é menor, é justamente pela presença de figuras como ele.

Quando fiz cobertura de filmes em que Milton Gonçalves foi ator, sempre tive o cuidado de não referendar o preconceito e não me referir a ele como ator negro. Hoje, porém, quando Milton Gonçalves já encerrou sua carreira, penso que é fundamental dizer em referência a ele a palavra negro. Um homem negro fundamental na cultura do Brasil.

Olinda, 30. 05. 22

O relutante fundamentalista

Filme “The reluctant fundamentalist” | Foto: Divulgação

Esse título parece vir de um artigo sobre questões não somente sociais, mas religiosas. “O relutante fundamentalista” (The reluctant fundamentalist) é, na verdade, o título de um filme de produção norte-americana, que foi dirigido pela cineasta Mira Nair, que é realmente norte-americana, embora tenha nascido na Índia. O que temos é uma obra com estrutura cinematográfica norte-americana, ainda que o seu arcabouço esteja completamente cheia de cultura muçulmana, isso pelo fato de Mira Nair ter uma formação indiana.

Não me recordo de filmes que tenha visto nos anos 80 do século XX dirigidos por Mira Nair, mas me lembro do seu nome e de ter já comentado alguma obra sua, que considerei importante para uma seleção cinematográfica. Talvez principalmente pelo fato de ter tido uma amiga jornalista e que foi atriz de um filme meu e que se chamava Mira. Também minha madrasta se chamava Nadir, o que Nair lembra. Assim, os comentários se formam muitas vezes a partir de questões pessoais.

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Nesse “The reluctant fundamentalist”, Mira Nair não nos conta na verdade a história de um jovem paquistanês, mas coloca o espectador em situações vividas principalmente nos Estados Unidos, com relação principal com a questão muçulmana e a sociedade existente nos Estados Unidos. O argumento desse filme foi extraído de uma novela de um escritor best-seller norte-americano, Mohsin Hamid.

Então não temos uma narrativa ficcional, mas a recriação de cenas vividas pelos personagens, principalmente pelo jovem e suas questões com originários do país USA. A cultura dos Estados Unidos, sabemos, é muito específica. Assim fica presente nas cenas criadas e também se mostra muito forte a presença da cultura muçulmana, o que aumenta o drama do acontecimento do 11 de setembro, com a destruição das torres gêmeas por muçulmanos. Desse modo, nesse filme “The reluctant fundamentalist” vivemos muito essa complexidade da cultura norte-americana que, apesar de tão forte e presente na humanidade toda, também sofre a ação de outras culturas como a dos muçulmanos, que vivem com toda força de presença.

Desde o começo do cinema até hoje, mesmo com a existência de Hollywood, os Estados Unidos não conseguem esconder a presença de manifestantes de outras culturas. E certamente desse fato é que o cinema norte-americano ganha mais força. Pois não é a estrutura técnica que faz a grande arte, mas esse grande elemento cultural de cada povo presente. Money and technology are not culture O específico de cada nacionalidade é que tem mais força.

Olinda, 29. 05. 22

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