Gato por lebre

Desde o final do primeiro mandato de Lula, principalmente após a demonstração dada de enorme resistência ao linchamento público promovido pela mídia golpista, se evidenciou a reorientação no discurso e uma nova tática adotada pela direita brasileira de se

Se antes a preocupação era se diferenciar do PT, agora, com os índices de popularidade do governo Lula a cada mês batendo novos recordes (apesar de todo o incessante bombardeio midiático), a direita tenta passar a mensagem de que tudo começou no governo FHC e que, sobretudo a política econômica é a mesma, sendo o PT tão neoliberal quanto o PSDB. A única diferença mais substancial na versão dos embusteiros seria a ética tucana que teria sido suplantada pelo fisiologismo petista.
 


Sendo verdadeiro o dito popular de que filho feio não tem pai, deve ser também verdade o seu oposto, pois muita gente faria de tudo para falsificar um teste de DNA para atestar serem os pais (ou mãe) de algumas crianças muito queridas pelos brasileiros, tais como o PAC, bolsa-família, etc.
 


Num dos artigos do colunista da Folha de São Paulo, Kennedy Alencar, postado no dia 25 de abril e intitulado “As novas trapalhadas do PT”, é simbólico essa reorientação no discurso da grande mídia ao afirmar que, entre outras coisas, “é uma bobagem falar que PT e PSDB fazem governos distintos”. E quando o assunto é política econômica “o PT faz uma administração nacional que tem DNA tucano”. O pior é que essas ilações ecoam e por vezes se fazem sentir no seio da própria esquerda.


 


Peguemos apenas o exemplo da tal política econômica. É possível que ela seja a mesma de FHC? Além de ser anti-dialética (nem mesmo a política econômica de FHC foi a mesma entre seus dois mandatos) essa afirmação desconsidera várias ações importantes que estão inseridas no bojo da chamada política econômica, stricto e lato sensu.


 


Por acaso não diz respeito diretamente à economia do Brasil (e por conseguinte à economia latino-americana) a paralisação das privatizações do patrimônio nacional? E o que dizer da interrupção das negociações da nefasta Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) proposta pelos Estados Unidos e que mesmo hoje ameaça a soberania de alguns países latino-americanos através dos tratados bilaterais de livre comércio (TLCs) (como no caso mais recente da Costa Rica). Há de se refletir como seria nossa economia hoje se a orientação econômica neoliberal tivesse triunfado plenamente em nosso país e a ALCA já estivesse valendo.
 


E o papel desempenhado pelo BNDES na atualidade? E o PAC? E a agenda internacional mais multipolar desenvolvida por nossa diplomacia? FHC teria privilegiado acordos e parcerias comerciais com Cuba, Bolívia, Venezuela, Argentina, países africanos, China, entre outros países “não alinhados” como bem faz Lula? E os investimentos em áreas outrora consideradas irrelevantes (um único exemplo, que para os estudantes é simbólico: a assistência estudantil) que agora são postos na pauta do dia (como as inúmeras abertura de concursos públicos em diversas áreas) contrariando a lógica do Estado Mínimo?


 


E por falar no tal Estado Mínimo… É substancialmente diferente ou não a condução do Estado Nacional com Lula à frente? Por acaso quais são as motivações da direita de tentar frear o que ela chama de gastança pública senão o seu próprio inconformismo com o enfrentamento a esse dogma neoliberal?


 


 


Portanto, é preciso ter cautela ao afirmar que a política econômica, ou outra qualquer, seja a mesma de FHC, ainda que haja pontos em comum e até de continuidade. Tais são os casos da manutenção de um Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM) extremamente conservador que mantém as taxas de juros mais altas do mundo, o seguimento das ameaças em conceder independência ao Banco Central (o que na prática vem ocorrendo), e tantas outras ações conservadoras.


 


 


Mas não é luta entre a mudança e a continuidade uma das sínteses do atual governo? Não é o caráter ambíguo que configura essa incessante disputa por projetos que se apresentam antagônicos por forças políticas distintas no seio do próprio governo? Não perceber os lados dessa peleja e não perceber as diferenças de classe que disputam de forma renhida a condução política de nosso país, pode vir a servir de água ao moinho dos neoliberais que não fazem parte desse governo, ainda que tenham alguns representantes.


 


 


PT e PSDB têm diferenças programáticas muito significativas e não interessam às forças populares a diluição desses contrastes. È importante para o Brasil que os antagonismos sejam cada vez mais evidentes aos olhos de milhões de brasileiros para que possamos ser capazes de enxergar mais claramente quais são os verdadeiros e legítimos representantes dos trabalhadores. Fortalecer e ampliar o campo democrático e progressista em nosso país passa por se distanciar cada vez mais do pólo conservador que insta diuturnamente a amenizar as grandes transformações em curso no Brasil e América Latina.

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