General Ancap e os “passadores de pano”: começou a operação “humaniza Milei”

Análise crítica sobre ascensão política na Argentina alerta para desafios econômicos e a importância da resistência progressista.

Javier Milei vestido de “general Ancap”, em referência ao anarcocapitalimo | Foto: reprodução/Twitter/Rastignac19

A Ciência Econômica é realmente um espaço em que reacionários, loucos, imbecis e picaretas tem seu lugar garantido. No caso dos liberais, as manobras, os saltos e os manuseios teóricos para justificarem suas opiniões e elas serem digeridas, principalmente para os trabalhadores, são, de fato, um caso para estudo.

Milei ganhou. Antes de mais nada o general Ancap não é um maluco de jogar pedras ao vento. Suas bizarrices servem para encobrir o que realmente pretende : representar o fascismo, com sua roupagem “ultraliberal”. Aliás essa baboseira de “anarco-capitalismo”, “ultraliberalismo” e outras variantes, se espalhou e os grandes meios de comunicação já as adotaram. É bom lembrar como Bolsonaro era tratado. O “médico e o monstro” do período de Bolsonaro provocaram as piruetas jornalísticas e justificativas de liberais de proveta, os saídos dos laboratórios dos cursos ortodoxos, que consideram a população uma mera variável.

Já começaram os artigos nos grandes jornais, tentando amortecer Milei-General Ancap. Novidades? Nenhuma! Esses “passadores de pano” iniciaram a operação “humaniza Milei” e, para isso, resgatam o mofado corolário de que é necessário o “estado mínimo”, com a mesma justificativa, que é a da eficiência, embora nos últimos duzentos anos, os estados fincados no liberalismo nunca demonstraram essa tal “eficiência”, a não ser que tratemos o Estado como uma empresa, que se move pelo lucro.

O mais interessante são as comparações. Insistimos em fazer comparações esdrúxulas, desconhecendo como as sociedades se formaram. Basta ver o caso brasileiro, que adotou uma política fiscal baseada no sucesso neozelandês. No caso do General Ancap, os liberais já começaram a saudar o novo Jekyl-Hide.

Se os liberais brasileiros já começaram a tornar Milei mais “racional”, os analistas políticos apontam para a sua “domesticação”, via ex-presidente Macri, aquele que deixou a economia argentina completamente destruída. Ele, um ex-peronista, é líder do partido Proposta Republicana, o principal partido da coalizão Juntos pela Mudança, que apoiou Ancap-Milei no segundo turno. Seria, segundo esses analistas, o “moderador” do radicalismo destrambelhado do futuro presidente, mas é bom recordar que o governo de Macri foi catastrófico.

Mas é bom ressaltar que a eleição de Milei desenhou-se ao longo do governo Alberto Fernandez, que realmente foi incapaz de construir um programa de recuperação econômica em cima da terra arrasada de Macri. Politicamente correto, seu governo não teve forças para reverter o quadro caótico e o cenário inflacionário, junto com uma economia destroçada, empurraram milhares de pessoas, boa parte dela jovens, para as periferias, no caso das mais pobres, e um empobrecimento escandaloso da baixa classe média. A tempestade perfeita. Os 44,1% de Sergio Massa, no segundo turno, e os 38,5% da coalizão União pela Pátria, podem ser considerados milagrosos, dado o estado da economia. A própria coalizão do general Ancap, a Liberdade Avança, só teve 26,5% dos votos.

Se o governo Macri foi uma tragédia, o de Ancap-Milei tende a ser uma farsa e o discurso libertário, nada mais do que o velho discurso liberal dos primórdios do capitalismo, onde os capitalistas tentavam impedir a ascensão das camadas mais baixas da sociedade, e obviamente as primeiras medidas poderão confirmar o que escrevo.

O futuro da Argentina é incerto, mas que fique de lição. A economia é uma força poderosa nas escolhas individuais. Cuidar para melhorar a vida das pessoas mais pobres, sem lhes dar perspectiva de futuro, podem não ser suficientes para que esses fantasmas voltem ao poder.

É preciso resiliência do governo e movimentação das forças progressistas, para defender o governo do permanente cerco fascista-bolsonarista, e pressionar para o governo não permanecer preso no programa do mercado financeiro.

A luta continua.

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