Governo Olmert por um fio

Ao final do ano passado, na minha última coluna no Vermelho, como faço todos os anos, publiquei algumas análises e “previsões” para 2007. Não tenho vocação para profeta e sociólogos não agem dessa forma. Analisam cenários e constroem alternativas. Algumas

Comissão Winograd


 


 


Desde o término da guerra, do bombardeio e do massacre que Israel perpetrou contra o Líbano entre julho e agosto de 2006, uma comissão foi formada para investigar os erros do próprio governo. Chefiada pelo general da reserva Amnon Lipnkin-Shajak. Desde o último dia 2 de maio o relatório da Comissão veio à tona e poderá derrubar o já extremamente frágil governo de Ehud Olmert.


 


 


O relatório é taxativo nos erros cometidos pelo governo, pelas forças armadas. O ministro da Defesa, Amir Peretz, do Partido Trabalhista, antes tido como uma espécie de homem de centro-esquerda sai queimado no relatório e deve deixar, em curto prazo, a liderança do Partido. Por fim, o relatório acusa do chefe das forças armadas, general Dan Halutz, que já saiu faz muito tempo desse posto, desgastado pela guerra perdida (e foi, pois na verdade o maior vitorioso foi o Hezbolláh) e por denúncias de corrupção.


 


As principais conclusões da Comissão:



• A guerra ao Líbano foi declarada sem que houvesse um debate no governo e no gabinete de Olmert;
• O exército israelense não estava pronto para essa agressão ao Líbano;
• Nunca houve propriamente um plano de ataque;
• O mundo político estava completamente ausente perante os militares.


 


Na verdade o desgaste é grande por outros motivos, que a imprensa pouco noticia. Israel, pela primeira vez, foi derrotado em uma guerra e lutou contra um “inimigo”, no caso os guerrilheiros libaneses do Hezbolláh e de outras organizações patrióticas e não conseguiu atingir seus dois maiores objetivos: a) trazer de volta os dois soldados israelenses seqüestrados e b) desmontar a estrutura do Hezbolláh. Ora, se entramos em uma guerra com dois objetivos claros e determinados e saímos delas 34 dias depois, com pelo menos 200 soldados mortos, isso é ou não uma derrota? E olha que Israel dispõe de um dos exércitos mais bem treinados e equipados do mundo. E foi derrotados por grupos guerrilheiros mal armados. Mas, há uma diferença fundamental: os guerrilheiros mujahedins libaneses lutam por uma idéia, por uma ideologia, possuem convicção e tem o forte apoio popular. Houve quem dissesse no lado árabe que até o deus da guerra, que sempre abençoou Israel, parecia que havia mudado de lado e passado para o lado dos árabes.


 


A vida em Israel é de certa forma estruturada em torno do exército. Estes desempenham um papel determinante na vida política e social. Olmert esta sendo o único primeiro Ministro que não tem experiência e passado militar, seja como general em uma das guerras, seja servido nas forças armadas. Seu passado é de um obscuro político que viveu à sombra do Likud, partido direitista que ele participou e do Kadima, que ele ajudou a criar com Ariel Sharon, que foi o seu mentor. Chegou como burocrata e tecnocrata, a ser prefeito de Jerusalém e nunca havia passado por um crivo legislativo para o Knesset (parlamento nacional judaico).


 


Desdobramentos e perspectivas


 


É uma situação nova e inusitada. Nenhum ex-primeiro Ministro de Israel foi tão impopular como esse Olmert. Sua popularidade, aceitação (pesquisa de ótimo e bom), chega a no máximo 2%! Que governo se sustenta com esse índice de popularidade? A pergunta é então porque ele não cai logo? Manifestações recentes em Tel Aviv chegaram a reunir 120 mil pessoas (isso para os padrões dessa cidade é como reunir um milhão em comício em SP, poucas vezes na história conseguido).


 


Olmert não cai ainda porque o mundo político e os Partido que lhe dão sustentação ainda não decidiram o que fazer. O governo é composto pelo Partido Kadima, considerado de centro e pelos trabalhistas, de centro-esquerda (pessoalmente não estou de acordo com essas denominações ideológicas, pois acho que o Kadima é de centro-direita e o PTI é de centro, no máximo, podendo ter uma ou outra ala mais à esquerda). O parlamento tem 120 cadeiras e essa coalizão possui apoio de pelo menos 76 deputados (o que daria 63% e se no Brasil estivesse, equivaleria a 324 deputados de 513, mais ou menos o que Lula tem, na coalizão governamental de 11 partidos que lhe dão sustentação).


 


O mais natural seria a convocação de novas eleições. Mas quem seria o novo líder de governo? (pela constituição israelense, o líder do partido vencedor é naturalmente o novo primeiro Ministro). Mas quem venceria? Binyamin Netanyahu é o atual líder do Likud, partido linha dura, de extrema direita (uma espécie de PFL/DEM no Brasil ou ainda pior). Mas não tem condições de vencer, apesar de já ter sido governante.


 


É provável que a queda de Olmert seja uma questão de dias ou no máximo de semanas. É provável que eleições sejam antecipadas (como, aliás, comentamos semana passada sobre a Turquia, ao qual voltaremos ao assunto em breve pela dimensão que a coisa esta ganhando). E o nome de seu Partido que vai ganhando maior dimensão é a da atual vice-primeira Ministra Tzipi Livni, uma moderada, de 49 anos, que acumula também o cargo de chanceler. Se o seu nome for confirmado, como líder do Kadima, ela poderá vir a ser a segunda mulher a governar Israel desde a sua fundação em 1948 (a primeira e única até agora foi Golda Meir). Livni vem pedindo, já de forma pública e até ofensiva, a renúncia do cargo do primeiro Ministro. Alguns analistas acham essa atitude de Livni covarde, pois ela pede a renúncia, mas pessoalmente não entrega o seu cargo pessoal e segue no governo.


 


A imprensa vem criticando duramente o governo. Jornalistas e editorialistas afirmam que com a estrutura atual de governo e com os problemas nas FDI, o país não venceria mais nenhuma guerra em que entrasse no momento (e esperemos que não ocorra nenhuma). A questão das propostas de paz com os palestinos continuam à margem dos debates e os conflitos e a violência seguem elevados nessa sociedade, seja ela do lado israelense, seja ela do lado palestino. Nós seguimos somando nossas forças e nossa voz na defesa do Estado Palestino.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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