Grande jornada democrática em Fortaleza

A Caravana Nacional da Anistia, em sua 60ª edição, esteve em Fortaleza nos últimos dias dois, três e quatro, como parte das comemorações dos 33 anos da Anistia Política no Brasil. A abertura dos trabalhos, na manhã do dia três, na Assembleia Legislativa do Ceará, foi um dos momentos mais emocionantes, não só pelo fato de o plenário ficar lotado, mas principalmente pela apresentação de um grupo de teatro composto na sua maioria por jovens adolescentes.

Aquela juventude, lembrando com tanta emoção e competência a resistência dos democratas brasileiros à ditadura militar, renovou a esperança de que a luta pela consolidação da democracia em nosso País e pela busca da verdade, da memória e da justiça já está sendo encampada pelas novas gerações que não viveram os anos de chumbo, mas que querem que toda a sociedade tome conhecimento da verdadeira tragédia que vitimou direta ou indiretamente a quase totalidade dos brasileiros de 1º de abril de 1064 a 15 de março de 1985.

Todos os que se pronunciaram na solenidade de abertura da 60ª Caravana da Anistia enfatizaram a necessidade de esclarecer a sociedade e mostrar que anistia não é sinônimo de esquecimento. A anistia de agosto de 1979, apesar de ser uma conquista parcial, foi imposta por um Congresso Nacional manietado e composto por um terço dos senadores biônicos. Os miliares golpistas que cassaram mandatos populares, prenderam ilegalmente, sequestraram, torturaram, mataram e ocultaram os corpos de mais de 150 patriotas, se auto anistiaram, fato inconcebível por se tratar de crimes de lesa humanidade que são imprescritíveis conforme todos os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.

Na noite do dia dois o presidente da Comissão Nacional de Anistia deu uma verdadeira aula de democracia aos alunos da Universidade de Fortaleza, cujo auditório ficou completamente lotado. Em seguida os membros da Comissão participaram de um jantar num restaurante da cidade em homenagem ao cantor e compositor cearense Raimundo Fagner que, no período da ditadura foi convidado para fazer um show no Instituto Penal Paulo Sarasate, mas condicionou a sua apresentação a presença dos presos políticos. A direção do presídio não aceitou e Fagner disse que não faria o show. A direção voltou atrás e só com a presença dos presos políticos o show teve início.

A tarde de sexta-feira foi dedicada ao julgamento dos processos de ex-presos e perseguidos políticos. Mais de três dezenas tiveram seus processos julgados favoráveis, embora alguns só parcialmente, e os depoimentos dos(as) atingidos(as) levaram às lágrimas muitos dos presentes.

Tendo à frente o Dr. Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça e presidente da Comissão Nacional de Anistia, a Caravana Nacional da Anistia , que pela segunda vez vem a Fortaleza, composta na sua maioria por mulheres, deixou a melhor das impressões, dado o comprometimento de todos no sentido de minimizar o sofrimento daqueles que, juntamente com seus familiares, foram vítimas diretas da ditadura militar implantada no Brasil em 1º de abril de 1964 e que, durante longos 21 anos, infelicitou toda a Nação.

Na manhã de sábado, contando com a valorosa participação de vários grupos de teatro, músicos, artistas, intelectuais, o Coletivo Aparecidos Políticos, a Associação 64/68 Anistia e o Instituto Frei Tito de Alencar, foi realizado um cortejo que se transformou na Caravana Arte e Memória em Movimento.
A caravana chamou a atenção de milhares de fortalezenses, em especial dos comerciários, com a encenação de peças e palavras de ordem lembrando aquele tenebroso período. Saindo da Praça do Ferreira com faixas e cartazes com nomes de mortos e desaparecidos cearenses, a caravana percorreu várias ruas do Centro, passando primeiro pelo Museu do Ceará, onde foi lembrada a prisão tortura e morte do Frei Tito de Alencar; depois concentrou-se em frente ao Arquivo Público de onde membros do Coletivo Aparecidos Políticos jogaram de cima cópias de documentos dos órgãos de repressão.

Um dos documentos, apanhado pela deputada Eliane Novais (PSB), presidenta da Comissão de Direitos humanos da Assembleia Legislativa, se referia ao jornalista Dorian Sampaio, que teve o mandato de deputado cassado pela ditadura. No documento, datado de 13 de março de 1973, o delegado do DOPS, Teobaldo Mansio de Brito, “Atesta, em face das informações prestadas pela Seção de Investigações e Segurança Pública e Cartório desta Especializada, que o Requerente registra neste Departamento Policial antecedentes contrários à Ordem Pública, à Segurança Nacional e as Instituições Políticas e Sociais do País. Como deputado Estadual teve seu Mandato assado, com base em Ato Institucional, sendo seus direitos políticos também cassados por dez anos”.

O ato terminou no Teatro José de Alencar

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