Henry Sobel, um rabino muito polêmico

Na semana que passou os jornais e sites do Brasil e de boa parte do mundo estamparam uma curiosa notícia: o Rabino mais conhecido do Brasil, presidente da Congregação Israelita de Paulista, a CIP, havia sido preso em Miami, nos Estados Unidos, após ter si

Como a história atestou, Herzog fora assassinado pelo regime militar em 25 de outubro de 1975. Ainda jovem e já ingresso nas fileiras do Partido Comunista do Brasil – PCdoB, estudante de engenharia da FEI, em São Bernardo, tive a honra de ter auxiliado na organização e convocação da missa na Catedral da Sé em São Paulo, celebrada em conjunto por dom Paulo Evaristo, Cardeal Arns e pelo Rabino Sobel, em culto ecumênico, que nos ajudou na luta contra a ditadura.



 
Sobel alegou já em São Paulo, quase duas semanas depois e tão somente quando a mídia brasileira descobriu esse episódio, que estava acometido de “transtornos de comportamento”. Acabou se internando para tratamento em São Paulo e seus médicos disseram que ele estava tomando medicamentos que causavam “confusões mentais”.



 
Não sou médico e pouco entendo de “transtornos mentais”. Também nada entendo se tais atitudes podem ser classificadas como “cleptomaníacas”, como alguns chegaram a dizer. A mim não cabe tripudiar sobre um fato constrangedor para o cidadão e a pessoa Henry Sobel, sua família, seus seguidores e apoiadores. Este é um momento, de fato, de fragilidade humana, episódio esse tão lamentável  que contrasta com o perfil publico que Sobel sempre representou.


 


Ocorre, porém, que o Rabino Sobel não é e nem nunca foi um ser político frágil e nem tão pouco benevolente quando tratou de conceituar e debater a paz e suas implicações no conflito do Oriente Médio. Senão vejamos.



Um rabino violento (*)



Em sua coluna diária no jornal Folha de São Paulo, do dia 24 de janeiro de 2002, o jornalista Jânio de Freitas assim se manifestou sobre o Rabino: “O rabino Henry Sobel, discutido chefe da Congregação Israelita de São Paulo, disse ter a autorização de Fernando Henrique Cardoso para a criação de uma Frente Ecumênica contra a Violência. Para começar, frente ecumênica não depende de autorização de nenhum presidente da República. Além disso, Henry Sobel é autor da mais feroz declaração feita contra árabes, em sua desatinada reação ao ataque às torres de Nova York e ao Pentágono. Não é pessoa das mais indicada para falar em combate à violência. Caso, porém, desejar fazê-lo, não seria impróprio que dirigisse a pregação da frente em auxilio aos oprimidos democratas de Israel e contra o general Ariel Sharon com sua voracidade genocida.''


 



Em outra passagem, desta feita no jornal O Globo, de 19 de novembro de 2002, assim registra sobre o Rabino polêmico: ''A opinião do rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, sobre a ameaça de retaliação dos Estados Unidos, provocou polêmica entre lideres religiosos e no meio acadêmico. Em texto publicado ontem n´O Globo — contendo trechos do discurso que Sobel leu na noite de segunda-feira [18/11/02], em São Paulo, na cerimônia do Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico — o rabino afirma que o ''mal absoluto só pode ser vencido pela força bruta''. Dom Estevão  Bettencourt, monge do Mosteiro de São Bento, lembra que ''a justiça há que ser mantida, porém é preciso que a defesa não vá além dos limites necessários para conter o mal’.



Em Novembro de 2002, o combativo engenheiro Emir Mourad, atual secretário-geral da Federação Palestina do Brasil – FEPAL esteve debatendo com o rabino Henry Sobel na TV Assembléia Legislativa de São Paulo. Temos o registro – pois está tudo documentado – que Sobel defendeu a retaliação pura e absoluta  como forma de justiça frente aos autores dos atentados terroristas em Nova York. A opinião pública não sabe até o presente momento, quais os critérios que o rabino usa para julgar quem é do bem absoluto e quem é  do mal absoluto.


 



Hoje nos indagamos se Sobel, quando fala, pronuncia-se em nome dos judeus, da Congregação que representa os israelitas  ditos liberais ou se ele fala sempre em seu nome pessoal? Realmente é estranha essa posição  de defesa do uso da força bruta, ainda mais vindo de um rabino considerado ''liberal'' e progressista por algumas comunidades. Será que Sobel acredita, por exemplo, que o general criminoso Ariel Sharon, ex-primeiro ministro de Israel (hoje em coma), responsável pelo massacre e assassinato de quase três mil palestinos civis nos acampamentos de Sabra e Chatila em setembro de 1982, representa também o mal absoluto? Podemos acreditar então que o direito internacional e a justiça devam ser substituídos  pela força bruta absoluta? A civilidade do pensamento do Rabino Sobel se restringe a utilização da barbárie da força bruta para resolver as crises e injustiças que a humanidade enfrenta?



Na guerra do Golfo, em 1991, realizamos um ato ecumênico pela paz, na Catedral da Sé. Eu e o engenheiro Emir Mourad éramos uma espécie de secretários executivos da Comitê contra a Guerra e pela Paz no Golfo. Nesse ato, lembro-me perfeitamente, o Rabino Henry Sobel defendeu a guerra como solução única e absoluta para o conflito! Recebeu uma grande vaia dos presentes, pois desrespeitou os objetivos nobres e humanos de um ato ecumênico pela paz. O ecumenismo significa a defesa intransigente da paz justa e duradoura entre povos e nações.


 



Talvez para o Rabino Sobel, este possa argumentar que essa guerra contra o Iraque estava baseada em uma Coalizão Internacional, capitaneada pelo EUA, com cobertura da ONU e suas resoluções! Então o Rabino  também defenderia o uso da força bruta contra Israel para que cumpra as resoluções da ONU referentes a décadas de ocupação genocida e terrorista dos territórios árabes e palestinos? Nunca presenciamos declaração alguma de Sobel nesse sentido.


 



Será que o Rabino Sobel acredita que a ocupação israelense é uma forma de terrorismo de Estado, portanto uma força do mal e que deve ser combatida da mesma forma como foi o Iraque diante de  sua ocupação ao Kuwait? Ou Será que, nesse caso de Israel o Rabino prefere usar outros critérios para resolver a cruel, assassina e fascista ocupação israelense? O rabino seleciona de acordo com que critérios  os bons e maus terroristas? Percebe-se que Sobel utiliza dois pesos e duas medidas para fazer jus aos seus interesses políticos e comunitários frente a Israel e seus aliados.



As posições que Sobel expressa são vinculadas ao sionismo internacional


 


Ele, como boa parte dos judeus de todo o mundo, é defensor da existência do Estado de Israel, exatamente como o projeto e modelo defendido pelo idealizador desse Estado Judaico moderno, que foi Theodor Hertzl, no famoso Congresso Judaico da Basiléia, na suíça realizado em 1897. Tais idéias, prontamente apoiadas pelo imperialismo norte-americano, então crescentes e se desenvolvendo. Partem do princípio de que os judeus descritos na bíblia, estiveram na Palestina cerca de três mil anos atrás e, portanto, têm direitos eternos e inalienáveis sobre aquelas terras.


 



Sempre nos batemos contra o sionismo internacional. Sob o argumento que isso nada mais é do que uma nova forma de colonialismo. Acho que os judeus devem ter o direito de ter terras e instalar o seu povo que vive espalhado pelo mundo. Acho estranho que a defesa desse estado tenha de ser feita a partir de uma revelação de um deus judaico que promete uma terra a um povo que não era e nunca foi dono dessas mesmas terras. Seria como se um dia os índios Cherokees, Cheyenes, Apaches e Comanches, reivindicassem de volta todas as terras americanas para si, ou os nossos Tupi Guaranis fizessem a mesma coisa, ou os descendentes dos Incas e Maias no México e tantos outros exemplos.


 



Conheço bem as idéias e propostas políticas do Rabino Sobel e as respeito. Mas, discordo radicalmente de todas elas. Sobel representa hoje, sob a face de um pseudo-liberal, as mais reacionárias posições anti-árabes e anti-palestinas. É defensor intransigente de Israel e não faz esforço algum na busca da paz e da construção do tão sonhado Estado Palestino. Foi também nesse sentido, que declinei de assinar todo e qualquer abaixo-assinado de apoio a um polêmico e reacionário Rabino como esse. Ainda que possa compreender a sua dor pessoal neste momento.


 



(*) Esta coluna tem dados e pesquisas graças ao meu camarada e amigo de quase trinta anos Emir Mourad ao qual, de público, agradeço.

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