Homenagem a um cidadão de Triunfo

Nelson Gonçalves Campos Filho nasceu em 28 de outubro de 1954, em Triunfo, região serrana encrustrada no sertão de Pernambuco. Viveu uma infância entre o campo, onde trabalhava como agricultor e a cidade, origem de um ecletismo musical que unia o maracatu

Aos 15 anos mudou-se para Paulo Afonso em busca de estudo e trabalho, sendo auxiliar de topógrafo na Usina de Paulo Afonso. Mas lá iniciou também suas andanças pelas festas, que viriam a ser as festas black. Foi pioneiro nessa cultura, tornando-se o primeiro nordestino a dançar James Brown e formando o lendário grupo de dança “Os Invertebrados”. 


 


Em 74 foi a Brasília, concluiu o ensino médio e tornou-se topógrafo, ao mesmo tempo em que se especializava em suas festas e andanças. Viveu na Ceilândia, em Sobradinho e em outras cidades, mas conheceu e passou a ser conhecido nas festas black, fazendo shows com a “Super Som 2000”, incendiando as festas de Brasília, na beira do Paranoá e correndo todas as cidades satélites com sua dança. Promove também caravanas aos bailes do Rio de Janeiro, que na época era o centro da música e da cultura black nacional. Lá fica conhecido como “O Homem Árvore”, apelido que ganhou de Toni Tornado.


 


Em 76, já formado, segue rumo a São Paulo, em busca do sonho de viver da black music. Forma o grupo “Funk & Cia” e começa então a participar de todos os bailes, promovendo um intercambio inédito, numa época em que os jovens evitavam ir aos bailes fora de sua região, por conta da rivalidade. Aprofunda o intercâmbio com o Rio e torna-se um dos grandes responsáveis pelo crescimento dos bailes blacks de São Paulo.


 


Na virada entre os anos 70 e 80 torna-se também o pioneiro da chamada “cultura de rua” no Brasil, ao levar sua dança para as ruas do Centro Velho (inicialmente em frente ao Teatro Municipal). É obrigado a mudar-se de ponto várias vezes, mas resiste à repressão policial e vai formando aos poucos uma legião de dançarinos de rua, até que acaba sendo aceito, por impulsionar o comércio de discos e artigos ligados à cultura black, que se concentrava na Rua 24 de Maio e nas Grandes Galerias.
Em meados dos anos 80, aliando sua música e dança à sua experiência de sua militância no movimento negro, começa a realizar trabalhos de formação com os jovens da periferia. Na gestão Erundina participa de diversos programas educacionais, culturais e sociais, de onde se destacam as oficinas de educação e cultura do projeto “RapEnsando a Educação”, que corre as escolas de toda a periferia.
Em 84 surpreende o público da avenida e da TV sambando de fasto, com seus passos que misturavam o samba ao soul, ao funk e ao break. Ganha então o estandarte de ouro, como melhor passista do samba paulistano, desfilando pela escola de samba Vai Vai. É convidado para fazer a abertura da novela Partido Alto, difundindo seus passos todos os dias, em horário nobre.


 


Nos anos 90 é chamado para trabalhar na Prefeitura Municipal de Diadema, trabalho que daria origem à Casa do Hip-Hop, hoje referência nacional em trabalhos sócio-culturais.


 


Ao longo de sua carreira já se apresentou ao lado de vários artistas de renome, como Tony Tornado, Gerson King Kombo, Paula Lima, Sandra de Sá, Leci Brandão, Tim Maia, Gilberto Gil, Jimmy Cliff e tantos outros, sendo inclusive convidado a receber James Brown em sua primeira visita ao Brasil.


 


Foi convidado a participar da abertura da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, na chamada “Copa das Culturas”. Retornou à Alemanha, a convite do governo alemão, num projeto de teatro em homenagem a Bertold Brecht, participando da peça “Na Selva das Cidades”.


 


Nelson já foi homenageado com outdoors gigantescos, por ocasião dos 450 anos da cidade de São Paulo. Em Triunfo, sua cidade natal, está sendo homenageado com a inauguração de um centro cultural que leva o seu nome. Agora é a hora de reconhecê-lo como Cidadão Paulistano, pela importância de seu trabalho para a cultura, para a identidade, para a história dessa cidade, tornando especialmente mais feliz e orgulhoso o povo negro e a juventude da periferia.

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