Honduras e a imprensa Goriletti

Em Honduras há um jornal editado em Tegucigalpa de nome El Heraldo que representa bem os demais. Um panfleto da direita, como tantos outros, desprovido de qualquer receio em ocultar sua clara posição a favor do golpe de estado (embora relutem por aceitar

Ler este jornal nos dá a sensação de voltar ao passado, mais precisamente 45 anos atrás, quando os atuais Folha de S. Paulo, Estadão, O Globo, Jornal do Brasil, entre outros periódicos da grande mídia brasileira da época, celebravam abertamente o golpe militar em nosso país. Faço um convite a lerem, em espanhol, pelo menos a primeira página deste jornal hondurenho www.elheraldo.hn compararem com as capas dos jornais brasileiros de dois de abril de 1964, que pode ser visto em um artigo de Emir Sader, publicado no site da Carta Maior, que divulga a pesquisa de Clarissa Pont


 


 


Vejamos algumas semelhanças. Tegucigalpa hoje (05/07/2009): “Honduras a favor da legalidade. Uma nova página foi escrita a favor da defesa da democracia”, “Milhares de pessoas se aglutinaram frente a casa presidencial para rechaçar a volta de Zelaya”. Ou então, “Líder supremo da igreja católica (Cardeal Oscar Andréz Rodriguéz) pede a Zelaya que não volte ao país e questiona a OEA porque o organismo internacional não condenou as ameaças bélicas de Chávez contra Honduras”. Brasil “ontem” (02/04/1964): “Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos. O Globo”, ou, “Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade … Legalidade que o caudilho (João Goulart) não quis preservar, violando-a no que de mais fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas. Jornal do Brasil”.


 


 


Passado tanto tempo, os grandes veículos de comunicação no Brasil são hoje bem mais sofisticados. Não são tão amadores como os hondurenhos na atualidade. São golpistas profissionais. Aperfeiçoaram-se. Passam suas idéias reacionárias de forma mais sutil e subliminar. Com a pecha de independentes, apartidários e plurais, passam gato por lebre em nome de uma suposta liberdade de imprensa que contraditoriamente ajudaram a cercear num passado recente.


 


 


Um hondurenho relatou a programação dos canais de TV em seu país enquanto o avião que transportava Zelaya sobrevoava Tegucigalpa: América 24 (programa em homenagem a um piloto de automobilismo), C5N (gripe suína), CNN (projeto de reabilitação de recifes), Canal 9 (luta livre de mulheres), Canal América (Os irmãos Suller), TN Deportivo (direto da Espanha, uma partida de hockey) e Telefe (um programa de culinária). Caso fosse no Brasil, os grandes meios de comunicação assumiriam seu papel de quarto poder e não hesitariam em perder tempo com futilidades. Entrariam abertamente com uma sortida programação de ataques e pesado arsenal de denúncias e ações desestabilizadoras contra o governo legalmente constituído, como tentaram fazer no episódio do mensalão.


 


 


Como não vivemos um golpe de estado e também porque nossa imprensa é mais “qualificada”, por enquanto apenas assistimos nos noticiários a uma agenda negativa do governo Lula e de todos os demais governos progressistas pelo mundo afora, permanentemente divulgada. Denunciaram exaustivamente a repressão aos opositores de Ahmadinejad no distante Irã, mas silenciaram-se sobre o hediondo massacre no vizinho Peru, onde o governo de Alan García promoveu o massacre de 60 indígenas que foram assassinados por defenderem a Amazônia peruana do assédio imperialista. E agora, o que dizem sobre o golpe de estado em Honduras?


 


 


Sorrateiramente, no começo, evitaram usar o termo “golpe”. Mas com o andar da carruagem e sem ter como negar o inconteste fato de o presidente democraticamente eleito, Manuel Zelaya, ter sido expulso de seu país pelas forças armadas, passaram a mesclar críticas ao golpe com denúncias de uma suposta influência chavista na região, o que teria sido a motivação para a direita conservadora hondurenha ter agido desta forma. Os meios de comunicação hondurenhos são patinhos perto destas raposas que povoam a grande mídia internacional e brasileira.


 


 


O macartismo escancarado perdeu vez. Agora o veneno é mais adocicado e de uma letalidade mais compassada. Mas um antídoto eficaz vem sendo desenvolvido: a comunicação alternativa, sobretudo através da internet.


 


 


Os gorilettis já não podem mais esconder das massas seus atos de barbárie. Em tempo real são desmascarados. Mesmo quando tentam manipular a informação, os povos envolvidos podem compará-las e saber quais são as intenções por trás daquela notícia.


 


 



Não se quer dizer que a humanidade caminha inexoravelmente para um futuro radioso de superação automática da luta de classes. O que a classe operária dispõe na atualidade são de algumas importantes ferramentas de luta que outrora não existiam ou eram inacessíveis. Todavia, é preciso colocar toda a força criativa da militância a favor da solidariedade entre os povos, da popularização das lutas dos trabalhadores e a denúncia contra a opressão reacionária das elites.


 


 


O golpe de Honduras passará a história como tantos outros. Lutaremos para que seja o mais breve possível. E quando passar, gerações poderão ler as manchetes de então e descobrir a serviço de quem estiveram esses meios de comunicação, tão reacionários quanto amadores.


 


 


Têm muito ainda que aprender estes gorilettis com a nossa grande imprensa.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor