Libertação de presos políticos palestinos

Até parece que a distensão esta voltando em Israel. Em uma demonstração de que “quer a paz”, o governo de Israel libertou cerca de 200 prisioneiros políticos palestinos, alguns deles com mais de 20 anos de cativeiro e de maus tratos. Seria mesmo uma demon

Os presos libertados


 


 


O tal “gesto de boa vontade” do governo de Ehud Olmert, apenas coincide com a chegada para mais um giro no Oriente Médio, da Secretária de Estado, Condoleezza Rice, que vai voltar a insistir em um acordo de paz antes que se encerre o ano, antes das eleições de novembro nos EUA que escolherá o próximo presidente e antes que George W. Bush, seu chefe, encerre o seu desastroso segundo mandato.


 


 


A libertação dessa quase duas centenas de prisioneiros deu-se na região da Cisjordânia. Todos saíram da prisão israelense de Ofer, que fica nessa região palestina e dirigiram-se para a cidade bíblica chamada Betânia, perto de Ramallah, onde fica o Quartel General da Autoridade Nacional Palestina. Os presos foram recebidos pelo ministro palestino que cuida de assuntos dos prisioneiros, ligado ao Fatah, Ashral El Ajrani.


 


 


Na delegação de prisioneiros libertados encontravam-se alguns dos mais antigos presos políticos de Israel, que esta coluna noticiou no começo do ano com exclusividade. Alguns desses presos possuem mais de 30 anos condenados ás masmorras judaicas e aos maus tratos, humilhações das prisões israelenses e de seu sistema judiciário, que atende somente aos judeus e cidadãos israelenses. Os palestinos poucos ou nenhum direito possuem, entre eles de serem assistidos por advogados palestinos e da AP.


 


 


Entre os libertados estava Saeed El-Ataba, que permaneceu 32 anos preso em Israel, Abu Ali Yatta, preso durante 28 anos, e Hussam Jader, um dos mais proeminentes líderes políticos do Fatah e detido há sete anos. No local da libertação, instalou-se uma verdadeira multidão de parentes, amigos e o presidente Mahmoud Abbas, pessoalmente, veio saudá-los a todos.


 


 


A polêmica logo instaurada em Israel, como sempre, é se essa atitude esta correta, pois alguns dos presos libertados estavam “condenados” pelo sistema judiciário judeu à prisão perpétua. Parte da imprensa e dos partidos mais conservadores de Israel disseram que “prisioneiros de mãos sujas” não poderiam ser libertados jamais, em uma clara alusão àqueles guerrilheiros palestinos que participaram de atividades e operações de guerrilhas aonde provavelmente vieram a morrer alguns israelenses.


 


 


Os desdobramentos


 


 


Praticamente toda a delegação dos libertos foram de presos ligados ao grupo Al Fatah, da facção majoritária dos palestinos. A que logo foi levantada entre os palestinos é em que medida essa libertação é uma mera demagogia ou ela pode mesmo ser encarada como um gesto positivo. Cabem aos palestinos opinarem sobre isso. Nesse sentido, o próprio ministro Ashral, declarou que, ainda que tímida a decisão, ela será sempre vista como algo positivo.


 


 


Ocorre que existem quase dez mil prisioneiros palestinos, boa parte deles condenados sem nenhum julgamento. Se Israel avalia que essa libertação pode sinalizar para uma perspectiva de assinatura de algum acordo de paz, em nosso ponto de vista esta redondamente enganado. Conforme vimos afirmando nesta coluna, são três questões centrais para um acordo global de paz: 1. Estado Palestina com fronteiras de antes da Guerra dos Seis Dias de 1967 (há 41 anos); 2. Jerusalém como capital do Estado Palestino e 3. Direito ao retorno de todos os palestinos refugiados no exílio que queira voltar ou indenização aos que não retornem. Além do que, claro, libertação e anistia ampla a todos os presos políticos palestinos.


 


 


Interessante a argumentação da direita israelense sobre libertação de palestinos com “mãos manchadas de sangue”. E as dezenas de soldados israelenses que por décadas seguidas mataram, torturaram, assassinaram palestinos, que vivem e vieram com as mãos completamente ensangüentadas e nunca sequer foram punidos, advertidos, menos ainda presos e condenados? Contra esses soldados, provavelmente “cumprindo ordens superiores”, como se diz para se livrar de crimes cometidos, ninguém fala nada e a imprensa israelense se cala.


 


 


A revolta dos palestinos sempre foi pelo fato de que Israel tem dois pesos e duas medidas, apoiadas pela mesma política estadunidense. A fúria para punir palestinos que lutam pela libertação de seu povo, de sua terra e construir seu estado, é inversamente proporcional para punir os israelenses que cometem atrocidades contra palestinos.


 


 


Assim, num momento que o mundo esta de olho na convenção democrata americana, cuja homologação de Barak Obama é líquida e certa; num momento em que esse mesmo Obama indica um vice-presidente branco, cristão e sionista, pró-Israel, pouca gente e países tem sua preocupação em garantir um efetivo acordo de paz, justo e duradouro que leve em conta às verdadeiras reivindicações e aspirações do povo palestino.


 


 


Mas, ainda assim, a Palestina vencerá!

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