Lula e o lucro recorde dos bancos

Ao final da sua viagem à América Central, o presidente Lula tentou novamente justificar o injustificável. Diante das notícias sobre os lucros recordes dos bancos, ele afirmou, candidamente, que “eu sonho com o dia em que as empresas, bancos e a imprensa p

O Bradesco, primeiro a divulgar o balanço, declarou que seu lucro líquido no primeiro semestre deste ano foi de R$ 4,007 bilhões – um novo recorde histórico, 27,9% a mais do que o obtido no mesmo período do ano passado. Na seqüência, o Itaú superou seu concorrente no pódio dos especuladores, obtendo um lucro líquido declarado no semestre de R$ 4,016 bilhões, resultado 35,8% superior ao obtido em 2006. O Banco do Brasil, que embora seja público e opere de forma similar ao das instituições privadas, ficou em terceiro lugar com R$ 2,477 bilhões, uma estranha queda de 36% no lucro. Os dois bancos privados já concentram o grosso das operações financeiras, num processo de acelerada e perigosa monopolização deste setor.


 


 


O motor da sangria financeira


 


 


Festejado pelos banqueiros e justificado pelo presidente Lula, estes balanços representam um afronta à sociedade brasileira, uma autêntica provocação. Como argumenta o sociólogo Léo Lince, “são dados que afirmam o Brasil como verdadeiro paraíso dos banqueiros, onde a extorsão financeira nada de braçada”. O pior é que este quadro não se inverteu no governo Lula e, pior, tem se agravado.  Tendo como base o primeiro semestre, em 2004 o Itaú teve um lucro de R$ 1,824 bilhões; em 2005, de R$ 2,474 bilhões; em 2006, de R$ 2,958; e, agora, chegou a R$ 4,016 bilhões. A progressão do Bradesco, segundo no ranking, não foi diferente neste período e ambos garantem que vão lucrar ainda mais no próximo semestre.


 


 


“Não foi, é claro, o governo Lula que inventou a engrenagem infernal deste cassino financeiro. Mas está comprometido com ela até a medula, pois a política econômica do governo é o principal motor da sangria desatada. Sem dúvida, os ganhos da casta financeira no Brasil suplantaram o patamar do humanamente tolerável. Esse dinheiro que gera dinheiro é o reverso dos gargalos que atravancam o financiamento dos demais setores da economia. Recolhido nas fortalezas inexpugnáveis da banca privada, livre de qualquer tipo de controle social, ele é uma fonte de dominação e avassalamento”, diz Lince. Para ele, a ortodoxia do Banco Central “abre largas avenidas para a reprodução continuada da espetacular farra dos bancos”.


 


 


Perversa transferência de renda


 


 


No extremo oposto dos lucros recordes dos banqueiros, o Brasil vive na pindaíba. O governo, atolado na imensa dívida pública que já supera R$ 1,198 trilhão, é forçado a desembolsar cerca de R$ 150 bilhões ao ano para pagar somente os juros. A taxa Selic do Banco Central, que regula os pagamentos dos depósitos compulsórios e da dívida pública, é de 11,25%, a segunda maior taxa do planeta. Já as empresas privadas e os cidadãos comuns são surrupiados diariamente por estes agiotas. A taxa de juros cobrada pelos bancos nos empréstimos para pessoas jurídicas é de 25,3% e a taxa para as pessoas físicas é, em média, de 49,1% ao ano. No caso das operadoras de cartão de crédito, ela atinge, em média, 122% ao ano – um absurdo.


 


 


Somando os R$ 150 bilhões retirados dos cofres públicos, mais o resultado da agiotagem do setor privado (que deve render outros R$ 167 bilhões de juros dos empréstimos), os banqueiros e rentistas abocanharão neste ano, apenas com a especulação financeira, cerca de R$ 317 bilhões – o que representa quase 20% do PIB nacional. É um enorme e perverso mecanismo de transferência e concentração de renda, que reduz os investimentos públicos, penaliza o setor produtivo, inibe o crédito e gera desemprego e miséria. Não há porque o presidente Lula sonhar com mais lucros para os banqueiros. Eles já roubam demais! Além disso, eles subtraem recursos que poderiam ser usados pelo governo na infra-estrutura e nas políticas sociais.


 


 


Absurdo do “bolsa especulador”


 


 


Segundo Raphael Prado, “os lucros do Bradesco e do Itaú no primeiro semestre, somados, poderiam pagar durante um ano o valor do maior benefício do Bolsa-Família para 5,9 milhões de beneficiários. Ambos lucraram, em apenas seis meses, R$ 8,023 bilhões… Já os benefícios do programa do governo federal, que hoje atinge cerca de 11 milhões de famílias, variam de R$ 18 a R$ 112”. Esta aberração é que tem levado o teólogo Frei Betto, que durante dois anos coordenou o Fome Zero, a intensificar suas críticas à política macroeconômica do governo Lula. Ele lembra que, em 2006, o Bolsa Família deu R$ 15 milhões para 11 milhões de famílias. “Já o ‘bolsa especulador’ doou R$ 150 bilhões para 20 mil famílias de credores da dívida pública. Não há futuro para um país que beneficia dessa maneira sua camada mais rica”, afirma.


 


 


Além da agiotagem dos juros, os bancos ainda acumulam fortunas com a cobrança das escorchantes taxas de serviços. Segundo artigo da revista eletrônica Terra Magazine, “o lucro recorde dos bancos se deve ao aumento especular de 250% nas tarifas. Levantamento da agência de classificação de riscos Austin Rating mostra que a participação dos serviços no crescimento bancário atingiu 19,7%, contra 19,1% dos títulos e valores imobiliários. Dessa forma, os serviços hoje compõem a segunda fonte de receita dos bancos, perdendo apenas para as receitas de crédito, que respondem por 47,6%. Para se ter uma idéia do tamanho do seu crescimento basta lembrar que a receita com serviços dos dez bancos que apresentaram balanço somou R$ 13,8 bilhões, um acréscimo de 22,8% em relação a igual período do ano passado”.

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