Mais uma lenda que se vai

A cada triste notícia que recebemos sobre a morte de um ídolo, a retrospectiva mais comum é voltada aos feitos realizados ao longo de sua carreira, seja ela política, social, artística ou esportiva. Quando uma lenda do esporte morre, naturalmente relembramos suas conquistas e melhores momentos, homenageando sua memória com as lembranças vitoriosas do passado.

Mas há casos como Muhammad Ali. O campeão olímpico, conhecido por sua agilidade impressionante, se tornou o maior ídolo do boxe, mas sua luta foi além dos ringues. Em uma época onde os EUA ainda viviam um período turbulento de segregação racial, no qual negros e brancos não poderiam freqüentar os mesmos lugares, Ali fez história ao se posicionar veemente contra a discriminação.

O discurso e as atitudes daquele atleta negro vitorioso, não apenas encantaram os jovens afro-americanos ávidos por mudanças em meio a uma sociedade racista, como repercutiram o mundo em questões sociais, políticas e religiosas.

Convocado pelo exército americano, recusou o alistamento para a Guerra do Vietnã e teve sua licença de boxeador cassada por três anos. Converteu-se ao islamismo, decepcionado com sua religião de origem e após encerrar a carreira, passou a se dedicar às missões de cunho humanitário e político, sendo nomeado mensageiro da paz pela ONU.

Se os seus reflexos no ringue impediam que o oponente o atingisse com força, a luta contra o Mal de Parkinson, que aos poucos foi reduzindo sua mobilidade e capacidade de comunicação, não pôde ser vencida. Aos 74 anos, morre uma lenda. Mas o homem que nasceu Cassius Clay e mudou seu nome para Muhammad Ali para se "tornar um homem livre" certamente não será esquecido como símbolo de uma luta muito maior do que a disputada nos ringues: a luta pela igualdade e direitos humanos.

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