Modelos de sistemas de relações de trabalho no mundo

Cada sistema de relações de trabalho carrega as marcas da história de um povo

Foto: Sinpro DF

Estruturar e promover um sistema de relações de trabalho robusto, que seja capaz de responder aos conflitos e desafios inerentes ao mundo do trabalho, é um componente estratégico para os países que apostam no diálogo social e na democracia para organizar a vida em sociedade.

Esses sistemas se estruturaram de maneira mais vigorosa no pós-guerra nos países da Europa, combinando o direito de organização sindical autônomo dos trabalhadores, o fortalecimento da negociação coletiva setorial e a eficácia dos contratos coletivos de trabalho para toda a base de representação, portanto, para além dos filiados ao sindicato. Sistemas tributários progressivos para financiar políticas públicas (educação, saúde, assistência, etc.) que promovessem igualdade de condição e de oportunidade compunham o acordo social mais amplo. Essa experimentação econômica, social e política, levada a cabo em muitos países da Europa, contribuiu para que outros países avançassem nesse mesmo sentido. Assim se fez no Brasil também.

É comum no debate sobre o tema, perguntar: quantos e quais modelos de sistemas de relações de trabalho existem no mundo? A resposta é: a quantidade e o tipos de modelo são tantos quantos o número de países que estruturaram sistemas de relações de trabalho.

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Isso porque cada sistema de relações de trabalho carrega as marcas da história de um povo. Cada país organizou aquilo que a nação foi capaz de pactuar a partir das forças políticas dos trabalhadores e empregadores e das práticas legislativas nacionais, criando sua estrutura, sistema e procedimentos para regular as relações laborais. A história econômica, as lutas políticas e sociais, a cultura, a tradição, os fatos históricos (guerras, conflitos, catástrofes, entre outros) conformaram e cimentaram os sistemas desenhados politicamente em cada contexto. Práticas contínuas que implementaram cada sistema de relações de trabalho, bem como as disputas para alterá-lo em função dos interesses de cada ator social, foram dando o contorno real que cada país deu ao seu próprio modelo.

Cada modelo específico responde, à sua maneira, a questões semelhantes, tais como: como se organizam as partes interessadas (trabalhadores e empregadores)? Qual a autonomia e liberdade de organização dos trabalhadores? Como se expressa o direito de greve? Como se estabelecem as regras que regem as relações de trabalho – formas de contratação, de remuneração, de condições de trabalho, de saúde e segurança? A relação entre os direitos coletivos e o direito individual? A eficácia dos contratos coletivos (acordos e convenções coletivas) – para os filiados ou para toda a base de representação? Como deliberar coletivamente pela pauta/reivindicações e pela celebração do acordo? Como resolver um impasse? Que tipo de mediação ou arbitragem usar? Entre outras questões.

As experiências nacionais construíram respostas históricas a estas questões e estiveram, estão e estarão em contínuo processo de mudança, em permanente tensionamento, pressionadas pelos interesses e conflitos que são inerentes às relações sociais de produção.

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A globalização e seu ideário neoliberal vem avançando na promoção de profundas mudanças em múltiplas dimensões da vida em sociedade. Isso se faz presente também em transformações nos sistemas de relações de trabalho e no sindicalismo.

A OCDE produziu um estudo amplo1 sobre a performance nos últimos 40 anos dos sistemas de relações de trabalho nos países que a compõem. Claramente identificou queda na densidade sindical e na cobertura das negociações coletivas no período. Prospectivamente indica a importância do fortalecimento dos sindicatos e da negociação coletiva como diretriz para renovar os sistemas de relações laborais em um mundo do trabalho em transformação.

1 OECD (2019), “Negotiating Our Way Up: Collective Bargaining in a Changing World of Work”, OECD Publishing, Paris, disponível em: https://www.oecd.org/employment/negotiating-our-way-up-1fd2da34-en.htm

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