Mudança do governo ou no governo?

Um certo sentimento de mudança tem sido captado por todas as pesquisas no País, mas nenhuma conseguiu identificar claramente a natureza e a extensão dessa mudança. Segundo Marcia Cavallari, presidente do Ibope Inteligência, a dúvida é se a mudança requerida é do governo ou no governo. E isso faz toda diferença.

Quando o ambiente é de mudança, os governantes têm pouca chance de se reeleger ou de fazer o sucessor. Desde a Constituição de 1988, em todas as eleições presidenciais em que a população exigia mudança, e isto aconteceu nos pleitos de 1989 e 2002, os candidatos da continuidade perderam.

A dúvida, portanto, faz todo o sentido, já que a presidente Dilma – apesar da visão catastrófica que a grande imprensa do Rio/SP/MG passa para leitores e telespectadores – é bem avaliada, tanto em termos de aprovação ao seu governo quanto em relação à intenção de votos.

As próximas pesquisas, certamente, conseguirão desvendar esse mistério. De qualquer forma, é possível antecipar algumas das possíveis explicações para essa contradição, na hipótese de que a mudança reclamada seja de governo.

A primeira é que no interior do Brasil, que representa dois terços da população, a aprovação ao governo e seus programas sociais é maior que nas chamadas regiões metropolitanas, onde os problemas são enormes e supostamente as pessoas são mais esclarecidas.

A segunda é que a oposição, em geral, e os partidos políticos, em particular, têm sido mais denuncistas do que propositivos, e a mera desqualificação não convence ninguém, já que as pessoas querem solução.

A terceira é que os candidatos postos – Aécio Neves, pelo PSDB, e Eduardo Campos, pelo PSB – ainda são poucos conhecidos da população, e, por isso, não tiveram oportunidade de se apresentar para os eleitores e convencê-los de que são capazes de corresponder às expectativas de mudança.

Já na hipótese de que a mudança requerida seja no governo, com ajustes nas prioridades e na forma de se relacionar com os agentes econômicos e sociais, o apoio à presidente pode ser explicado, inclusive em relação à intenção de votos, conforme segue.

A primeira explicação diz respeito à percepção de que a presidente tem feito um esforço sincero para melhorar a qualidade ética do governo e enfrentar as dificuldades na economia, especialmente em relação ao combate à inflação.

A segunda explicação é que o emprego e a renda têm crescido, apesar do baixo PIB e da turbulência internacional, que afetam indicadores no Brasil, como a taxa de câmbio e de juros.

A terceira explicação é que o governo mantém um consistente programa de distribuição de renda, que combina a política de recuperação do salário mínimo, os programas sociais (bolsa família) com a assistência social, a cargo da Seguridade Social.

De qualquer forma, o resultado da eleição presidencial, independentemente das explicações para as duas hipóteses, dependerá do desempenho da economia e também de aspectos políticos.

No caso da economia, uma eventual queda acentuada da renda, um aumento inesperado do desemprego ou o descontrole de inflação certamente terá fortes reflexos no ânimo dos eleitores.

Na questão política, grandes manifestações por ocasião da Copa do mundo, combinado com eventual dissidência de partidos importantes da base de apoio ao governo, poderá também influenciar nas três condições importantes para a eleição: os palanques estaduais, o tempo de televisão e o financiamento de campanha.

Portanto, tentar antecipar resultado de eleição no período pré-eleitoral, sem que o processo eleitoral esteja efetivamente em curso, é mera especulação. Só se terá clareza das reais tendências após a formalização das candidaturas, especialmente por ocasião do horário eleitoral gratuito. De qualquer modo, os aspectos levantados apontam a complexidade do processo sucessório deste ano.

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