No berço da democracia, os fascistas crescem no parlamento

Eleições na Grécia revelam vitória do Nova Democracia e ascensão da extrema-direita, com maioria absoluta e 34 deputados radicais no parlamento.

Primeiro-ministro grego e líder do partido conservador Nova Democracia, Kyriakos Mitsotakis, celebra resultado das eleições | Foto: Reprodução/ Twitter

Neste final de semana foram realizadas eleições na Grécia. Seus 9,9 milhões de eleitores foram chamados às urnas, mas apenas 52,8% compareceram. Não é de se estranhar essa gigantesca abstenção, já que há pouco mais de 2 meses, em maio, foram realizadas eleições e a abstenção, naquela ocasião, foi de 38,9%, considerada normal para os padrões europeus.

No berço da democracia, o sistema eleitoral tem uma especificidade: o exótico Sistema de Bônus da Maioria (SBM). Esse sistema é uma forma de representação semi-proporcional usada em alguns países europeus. Sua característica é um bônus majoritário que dá assentos extras ou representação em órgão eleito ao partido ou aos partidos filiados com mais votos com o objetivo de dar estabilidade ao governo. Atualmente é usado na Grécia, Armênia, San Marino, Polinésia Francesa e anteriormente na Itália de 2006 a 2013. Na Argentina, é usado na Câmara dos Deputados da Província de Santa Fe, Chubut e Entre Ríos.

Esse esdrúxulo sistema, que fora eliminado pela aliança de centro-esquerda (Syriza-Anel) em 2016, foi retomado em 2020. E como funciona? A lista partidária que chegar primeiro com pelo menos 25% dos votos recebe 20 cadeiras extras, com uma cadeira a mais para cada meio ponto percentual acima de 25%, até um máximo de 50 cadeiras extras a 40% (ou mais) dos votos. Atribuída essa bonificação, inicia-se a devida distribuição proporcional para as cadeiras remanescentes, que pode variar de 250 se um partido obtiver pelo menos 40%, a 300 se nenhum partido atingir 25%.

Nas eleições de maio, o conservador Nova Democracia obteve 49,8% dos votos e elegeram 146 dos 300 deputados, perdendo 12 deputados em relação a maio de 2019, ou seja, o governo do conservador Kyriakos Mitsotakis, que está no poder desde a vitória da eleição citada, não conseguiu obter a maioria absoluta. O socialista Coalizão Esquerda Radical-Aliança Progressista, cuja sigla, em grego, é Syriza, amargou uma nova derrota. Se em 2019 já perdera 59 deputados em relação a eleição anterior, em maio recuou ainda mais, perdendo mais 15 deputados.

Bom para o tradicional Movimento Socialista Pan-Helênico, o Pasok, que, aliado ao Movimento dos Socialistas Democráticos, Kinima, uma dissidência do próprio Pasok (2015), aos sociais liberais do O Rio, To Potami, na aliança Pasok-Kinal, elegeu 19 deputados a mais, elegendo 41 deputados. Os comunistas do Akel, ganharam 11 cadeiras e os fascistas do Solução Grega, o Ellinikí Lýsi (fundado em 2016), elegeram 16 deputados (+10). O resultado mostrou ao primeiro-ministro Mitsotakis que seria possível ampliar sua votação, até porque o seu principal oponente, o Syrisa, tido e havido como a “redenção da esquerda europeia”, quando surgiu em 2015, se enfraquecera ao longo dos anos, depois de ter sido enquadrado pela chanceler Angela Merkel, Alemanha, que lhe impôs um draconiano acordo de refinanciamento da dívida grega, domesticando os leões gregos.

Nas eleições de domingo, o Nova Democracia, Néa Dimokratía, manteve o percentual eleitoral, já que obteve 40,8% em maio e 40,6% em junho, mas devido ao sistema eleitoral, abocanhou mais 12 cadeiras, chegando a 158 e a maioria absoluta. A derrota do Syrisa (-24 deputados), foi estendida aos sociais-democratas do PASOK (-9) e aos comunistas do Akel (-6).

Houve alguma novidade? O fascista Solução Grega, perdeu 4 cadeiras, mas a emergência do Spartans, que se localiza como “o braço de ferro e o verdadeiro baluarte que porá fim ao declínio e à venda da Grécia e dos cidadãos gregos”, puro fascismo, elegeu 12 deputados; junto com o também extremista Movimento Democrático Patriótico-Vitória, com seu slogan “Fé, Nação e Família”, elegeu 10 deputados. O pequeno Curso da Liberdade, Plefsi Eleftherias, considerado vagamente de esquerda, elegeu 8 deputados.

Nesse novo parlamento, dominado pelo Nova Democracia, mas que tem 34 deputados da extrema-direita, algo inédito no parlamento grego, a sorte grega parece estar atrelada às diretrizes do chamado Ocidente e mostra uma consolidação do extremismo de direita nos parlamentos europeus.

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