O bom que não é original: um desafio para esquerda

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A derrota de Bolsonaro nas eleições municipais apresenta uma reconfiguração das forças políticas e sinaliza o aspecto do isolamento político dos seus defensores mais adestrados. Entretanto, ainda continua vivo e bem articulado o campo conservador, orquestrado por um campo quase que impenetrável caracterizado pelo movimento neopentecostal responsável pela disseminação de um discurso odioso, reacionário, conservador e capaz de definir resultados eleitorais. 

O campo da esquerda sai com resultados desafiadores. A direita não alinhada com Bolsonaro e a centro-esquerda são os grandes vitoriosos. O campo liderado pelos Ferreira Gomes cresce no país e a rejeição ao Partido dos Trabalhadores (PT) é percebida nos resultados das capitais brasileiras, mas é preciso considerar a capilaridade nacional e seu poder articulação. O PT não está fora do jogo como avalia Ciro Gomes ao impor o seu nome.    

As candidaturas ideologicamente mais alinhadas ao campo da esquerda tiveram resultados desanimadores, apesar de casos de particulares de boa desenvoltura eleitoral. É o caso de Manuela D´Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), que reforçam nacionalmente suas imagens como lideranças de esquerda ao mesmo tempo que projetam os seus partidos.  

Para o campo da esquerda, eleger as candidaturas de centro-esquerda é favorável para impedir o avanço da direita e do bolsonarismo. É algo bom, mas não é o ideal. Porém, as condições objetivas apresentam esse cenário de revezamento das elites e oligarquias no poder, inclusive inserida no próprio seio da esquerda. 

As eleições de certa forma apresentam aspectos particulares para os partidos de esquerda, que têm uma trajetória de inserção nos movimentos sociais e nas lutas locais e nacionais da classe trabalhadora. Entretanto, no período eleitoral, por diversos fatores e características próprias das eleições, tanto do ponto de vista jurídico como eleitoral (numérico), os partidos têm que na maioria das vezes montar uma espécie de nova estrutura partidária para o embate eleitoral.  

O desafio da esquerda é criar as condições objetivas para ampliar a sua planilha eleitoral ao mesmo tempo que fortalece os processos permanentes de organização de base e de atuação em frentes sociais. Especialmente no movimento comunitário, nosso lugar de disputa com a direita. Precisamos discutir mais as cidades para compreender suas dinâmicas e suas demandas. Precisamos entender sobre o Leste Europeu e a rua onde moramos.

A luta nos movimentos sociais, na gestão institucional e nos parlamentos deve ser ponto de encontro das esquerdas para radicalizar na defesa da democracia, no sentido ampliar os serviços públicos e garantir os mecanismos de controle, participação e protagonismo social da sociedade civil. Esse é um dos caminhos para o substrato eleitoral.

Os preparativos para as eleições de 2022 já iniciaram. As condições para esquerda continuam adversas, as eleições não se ganham com idealismo, mas a partir das condições objetivas concretas que resultam no quantitativo de votos. 

Para essa batalha eleitoral é preciso unificar as esquerdas e ampliar com a centro esquerda. É uma construção delicada, complexa e necessária. Caso contrário, a tentativa de purismo ideológico ou de prediletismo dividirá o nosso campo e nos colocará no isolamento. É preciso jogar para ser bom e original, compreendendo a realidade que se apresenta, que nem sempre é a desejada.

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