O esporte nos tempos de pandemia

Desde o governo Temer e a extinção do Ministério do Esporte, os investimentos em esporte e lazer tem caído gradativamente. Isso impacta o aprendizado das crianças, a saúde dos idosos e toda a sociedade

Fotomontagem feita com as fotos de: FutsalAmador/Divulgação e Prefeitura de Curitiba/Divulgação

A pandemia deixará inúmeras marcas em diferentes áreas da sociedade, além da insubstituível perda causada pelas mortes. Muitos setores terão que se reinventar frente à nova realidade do mundo. No esporte a situação não será diferente e o segmento terá que se reconstruir tanto no âmbito das políticas públicas, quanto em sua dimensão privada. O impacto na preparação de inúmeros atletas que se viram impossibilitados de concluir o ciclo olímpico, o novo ambiente escolar e universitário menos propício ao contato físico e as restrições de públicos em eventos, são apenas alguns dos desafios que os governos futuros e a cadeia econômica do esporte precisarão enfrentar.

Desde o governo do ex-presidente Michel Temer as políticas públicas de esporte e de lazer vêm sendo atacadas em nível federal. O Ministério do Esporte foi extinto, os orçamentos são reduzidos a cada ano e a população, sobretudo crianças, jovens e idosos, têm o seu direito ao esporte, consagrado no artigo 217 da Constituição Federal, negado pelos governos de plantão. O Esporte Educacional, que deveria ser ofertado como parte da construção do ensino integral, através de programas como foi o Segundo Tempo, que chegou a atender mais de 3 milhões de crianças em todo o país entre 2003 e 2015, não existe mais. Com isso, os valores positivos que o Esporte Educacional propicia na formação de crianças e de jovens, como convivência com o coletivo; a aprendizagem de ganhar, mas também de perder; o respeito a limites e regras; o valor do esforço para a superação de obstáculos e limites, são valores que não mais são ofertados aos estudantes da educação básica, o que torna a escola ainda menos atrativa.

As políticas públicas que estimulavam os cidadãos, especialmente a população adulta e idosa, a praticarem atividades físicas em espaços públicos, como praças e centros esportivos, foram cortadas pelo governo Bolsonaro e praticamente se extinguiram com a pandemia. O estímulo à construção de ciclovias, pistas de caminhadas, academias ao ar livre e reformas de campos de várzea, não fazem parte da agenda do país. Quando um governo investe em esporte está melhorando o nível da educação, da saúde, da segurança pública e da qualidade de vida como um todo. Além do desemprego recorde e da pobreza que voltaram a crescer em todo o Brasil, a triste coincidência de um dos piores governos da história do país ocorrer em meio a uma pandemia, vai também privar milhões de brasileiros do acesso ao esporte e ao lazer, negando assim, mais um direito constitucional.

O PIB do esporte no Brasil que vinha crescendo acima do índice nacional nos últimos anos, hoje representa cerca de R$ 67 bilhões ou 1,6% do PIB brasileiro. A cadeia econômica do esporte também foi duramente afetada com o fechamento de clubes e academias, a realização de eventos esportivos sem público, a diminuição dos valores de direitos de imagem, a perda de patrocínios, dentre outros incentivos, que foram reduzidos. Bolsonaro se apressou em confirmar a Copa América de Futebol no Brasil, com toda a sorte de incentivos, mas não tomou nenhuma providencia em relação aos inúmeros atletas e paratletas que perderam suas rendas e a chance de ingressarem em outros países para disputarem as seletivas das Olimpíadas, porque o Brasil representava um risco sanitário e várias fronteiras se fecharam para nós. Não houve uma política de suporte financeiro emergencial para os profissionais do esporte, nem tampouco para a indústria do esporte, que gera empregos e poderia assumir um papel mais importante no pós-pandemia, em que mais pessoas buscarão bem estar a partir da prática esportiva e de uma vida mais saudável.

O mais próximo que esse governo chega na compreensão do significado do esporte para o país é quando, de forma pouco litúrgica, Bolsonaro e seu vice se fantasiam com camisetas de futebol ou usam máscaras com escudos de times. Passa ao largo a visão do Esporte enquanto um direito do cidadão e um dever do Estado. A concepção clubista que predomina no governo federal sobre o esporte brasileiro, o impede de conhecer a multiplicidade de modalidades e de dimensões do esporte, do alto rendimento com nossos heróis olímpicos, passando pelos atletas escolares e universitários, até as mais singelas formas de atividades físicas e de lazer. Apesar de Bolsonaro e da pandemia, o esporte brasileiro sobreviverá como parte fundamental de nossa cultura.

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