O Estado brasileiro doou a minha vida para os bancos!
Pelo tal empréstimo, temos o "direito" uma dívida vitalícia
Publicado 20/05/2014 16:38
“Aqui é fulana de tal, do setor do INSS do banco tal. Agora que a senhora está aposentada, o INSS colocou à sua disposição um empréstimo consignado de valor tal…”. São meses de desassossego, desde que o INSS homologou a minha aposentadoria, em 8.1.2014, que eu soube pelos telefonemas dos bancos, não apenas de Minas, mas de vários Estados do país, muitos dias antes de receber o comunicado do INSS!
Fiquei irada e impressionada desde o primeiro telefonema porque a moça sabia não apenas o meu telefone residencial, mas o dia da homologação e o valor mensal de minha aposentadoria, o montante do retroativo a setembro de 2013, quando fiz 60 anos, em qual banco eu receberia e a partir de quando! Fiquei atônita com a exposição da minha vida a um clique nos computadores de todos os bancos do país! Achei um abuso. Mas eu mal sabia que o assédio moral apenas começara…
Dia do Aposentado
Tenho sido assediada moralmente pelos bancos numa dimensão incomensurável desde que o dia amanhece! A insistência das funcionárias é algo de proporções abissais! Segurei a onda o quanto pude. Fui perdendo a paciência. Passei a cortar a fala tão logo diziam: “Aqui é fulana de tal, do setor do INSS…”. Mas as moças não se dão por vencidas!
"E quando a gente diz
não, enveredam por
algo surreal e mais invasivo,
indagando: “A senhora tem casa?
Tem carro? Não quer
trocá-lo por um zero?"
Crendo que toda pessoa velha é babaca e facilmente enrolável, entram de sola na tentativa de convencimento das coisas maravilhosas que poderemos comprar com aquela “dinheirama” que oferecem colocar na nossa conta em dois dias, adiantando as graças da renovação “ad aeternum” do empréstimo, antes que acabemos de pagá-lo! Fiquei a imaginar que o tal empréstimo consignado “rotativo”, no qual temos o “direito” a uma dívida vitalícia, só pode ser um negócio da China para os bancos!
E quando a gente diz não, que, quando quiser, fará no banco onde recebe, enveredam por algo surreal e mais invasivo, indagando: “A senhora tem casa? Não quer reformá-la? Tem carro? Não quer trocá-lo por um zero? Já foi à Europa? A Nova York? Dizem que é lindo o Leste Europeu, a senhora já foi?”. Estava de lua e enchi a medida: “Para, querida, conheço mais de 50 países. Não quero mais viajar!”.
Chegam ao acintoso desplante: “Olhe, pense bem, a senhora não está precisando, mas pode ter um parente, filho ou filha, precisando e agora pode ajudar! Não quer mesmo ajudar alguém necessitado da família?”. Achei que era um carma! Fui tentando responder com educação, mas na última semana mudei de tática. Perdi a esportiva. Nem sequer sabia que tínhamos essa montanheira de bancos no Brasil!