O golpe de Honduras e a mídia brasileira

“O presidente violentamente sequestrado durante a madrugada por militares encapuzados, seguindo ao pé da letra o que indica o Manual de Operações da CIA e a Escola das América para os esquadrões da morte;

uma carta de renúncia apócrifa que foi divulgada a fim de enganar e desmobilizar a população – e que foi de imediato retransmitida para todo o mundo pela rede CNN, sem confirmar previamente a veracidade da notícia;a reação do povo que, consciente da manobra, sai às ruas para deter os tanques e os veículos do Exército com as mãos limpas e exigir o retorno de Zelaya à presidência; o corte da energia elétrica para impedir o funcionamento da rádio e da televisão e semear a confusão e o desânimo.” Foi assim que Atilio A. Boron, Diretor do Programa Latino-americano de Educação a Distancia em Ciências Sociais, de Buenos Aires, descreveu o golpe hondurenho. (clique aqui)


 


 


“O que aconteceu em Honduras põe em evidência a resistência que provoca nas estruturas tradicionais de poder qualquer tentativa de aprofundar a vida democrática”, disse mais Boron, lembrando que é o mesmo modelo do golpe de 2002 contra Chávez, na Venezuela, e da abortada tentativa contra Evo Morales, no ano passado. Devemos acrescentar que há desejos latentes muito semelhantes aqui no Brasil, na Argentina, no Equador…


 


 


A reação dessas estruturas tradicionais, de que fala Boron, pode ser conferida hoje (30/6) na fala de Miriam Leitão, na Rede Globo, e em editorial da Folha de S Paulo. Ao tempo em que condenam o golpe, eles também procuram justificá-lo pela tentativa do presidente Zelaya de modificar a constituição hondurenha, pela via da consulta popular. “Os dois lados erraram”, diz Miriam, “ao estilo Chávez”, completa a Folha. Fica, pois, justificado o golpe.


 


 


Não se vê a nossa mídia preocupada em informar os conteúdos de modernização dos instrumentos democráticos que encerram essas propostas de revisão constitucional. Nem o caráter amplo de representatividade dessas consultas. As informações pinçam apenas um dos itens da proposta, a possibilidade de reeleição do presidente, para condenar o texto que desconhecem. Os leitores, ouvintes, expectadores merecem mais respeito.


 


 


“É a fórmula consagrada pelo venezuelano Hugo Chávez”, diz a Folha. Pode ser. Mas, ela ganhou força nos anos do primeiro mandato de FHC, sem recorrer à via democrática de uma consulta popular. Muito pior: contando com a mais desbragada compra de votos de parlamentares já havida no Congresso Nacional, a inviabilizar qualquer reação oposicionista e a facilitar a mobilização das estruturas tradicionais, sob total silêncio da mídia.

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