O patrimônio antes do homem

Nós, trabalhadores somos os promotores da prosperidade e não o governo; Intervenção estatal na distribuição de renda é o que gera desigualdades; A alternativa ao capitalismo é o populismo. Mas a afirmação mais contundente foi: Os direitos humanos não podem se sobrepor ao direito de propriedade.

Com esta afirmação Leonardo Fração, presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE) foi aplaudido de pé por cerca de mil pessoas na abertura do XXIII Fórum da Liberdade neste dia 12 de abril, na PUC em Porto Alegre.

A afirmação foi acompanhada por outras pérolas similares: Segundo Fração, os mecanismos de distribuição de renda são baseados em mentiras sobre o mercado, nos empresários e sobre o capitalismo que ele diz não gerar desigualdades nem pobreza.

O Fórum trouxe para discussão o que chamou de seis temas para entender o mundo: Capitalismo, socialismo, intervencionismo, inflação, investimento estrangeiro e política e idéias.

Com personalidades como Hélio Beltrão, Rodrigo Constantino, Armínio Fraga e, claro, Fernando Henrique Cardoso, o Fórum é uma vitrine para o pensamento neoliberal mundial. Sua dose de louvor tupiniquim com convidados estrangeiros se propõe a analisar a conjuntura política, os governos e criticar qualquer intervenção do Estado no mercado. Desde, claro, que não seja para socorrer o mercado em momentos de crise. Afinal, o presidente mundial da Renault-Nissan, o brasileiro radicado francês Carlos Ghosn, elogiando a ação do governo estadunidense com a GM, explica que neste caso o governo não interviu nas regras de mercado, mas salvou empregos. E a empresa, claro.

Esta edição do Fórum teve inspiração na obra do austríaco Ludwig Von Mises, liberal radicado nos EUA desde os anos 40. Crítico contumaz do socialismo, sua obra mais conhecida é Ação Humana – Um tratado de economia, onde ele propõe que o Estado ineficaz pode ser substituído por outro tipo de Estado, baseado nas leis de mercado. Um dos pensamentos que exemplificam sua obra é: "Se a história a ivilização poderia nos ensinar alguma coisa, seria que a propriedade rivada está indissoluvelmente ligada à civilização".

A governadora gaúcha Yeda Crucius, bem aconselhada por sua assessoria de comunicação desistiu no último momento de participar da mesa de abertura. Afinal, a direita toda sabe da governadora como aliada, e, em ano eleitoral, não achou conveniente expor-se mais do que já o fez com todos os problemas enfrentados em seus quase quatro anos de governo.

A crítica contumaz a qualquer alternativa ao capitalismo, aos programas sociais, a distribuição de renda tem sido marcas das edições anteriores do Fórum, apesar de palestrantes progressistas já terem passado por ele. Mas em tempos de pós-crise, o que resume o pensamento dominante no evento é sintomático: Para eles, não foi o neoliberalismo a causa da recente crise econômica, mas sim a condução equivocada por parte do governo estadunidense e do setor da construção civil. Tais bolhas, eis todo o problema.

E chamam a isto de Fórum da Liberdade.

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