O que é e por que é perigosa a expansão para o leste da OTAN

Em vinte anos, a Otan se expandiu de 16 para 30 países. Desta forma, Washington estende-se para a proximidade da Rússia, inclusive dentro do território da ex-URSS

Exercício militar da Otan realizado na Estônia | Foto: Otan

Começa no mesmo ano, 1999, em que a Otan derruba a Iugoslávia com a guerra e, na cúpula de Washington, anuncia sua intenção de “realizar operações de resposta às crises, não previstas no Artigo 5, fora do território da Aliança”. Esquecendo seu compromisso com a Rússia de não “se expandir nem um centímetro para o Leste”, a Otan inicia sua expansão. Engloba os três primeiros países do antigo Pacto de Varsóvia: Polônia, República Tcheca e Hungria. Depois, em 2004, estende-se para mais sete: Estônia, Letônia, Lituânia (antes parte da URSS); Bulgária, Romênia, Eslováquia (anteriormente parte do Pacto de Varsóvia); Eslovênia (anteriormente parte da Federação Iugoslava). Em 2009, a Otan incorpora a Albânia (antigamente membro do Pacto de Varsóvia) e a Croácia (antigamente parte da Federação Iugoslava); em 2017, Montenegro (antigamente parte da Iugoslávia); em 2020 a Macedônia do Norte (antigamente parte da Iugoslávia). Em vinte anos, a Otan se expandiu de 16 para 30 países. Desta forma, Washington alcança um resultado triplo. Estende-se para a proximidade da Rússia, inclusive dentro do território da ex-URSS, cuja Aliança militar mantém as alavancas de comando: o Comandante Supremo Aliado na Europa é, “por tradição”, sempre um general dos EUA nomeado pelo presidente dos Estados Unidos, e outros comandos-chave também pertencem aos EUA.

Gereral estadunidense Tod. D Wolters, atual Comandante Supremo Aliado na Europa | Foto: Otan

Ao mesmo tempo, Washington liga os países do Leste não tanto à Aliança, mas mais diretamente aos Estados Unidos. Romênia e a Bulgária, assim que entram, colocam imediatamente à disposição dos Estados Unidos as importantes bases militares de Constanta e Burgas no Mar Negro. O terceiro resultado obtido por Washington com a expansão da Otan para o leste é o fortalecimento de sua influência na Europa. Dos dez países da Europa Central-Oriental que aderiram à Otan entre 1999 e 2004, sete entraram na União Europeia entre 2004 e 2007: à UE que se expande para o Leste, os Estados Unidos sobrepõem a Otan. Hoje, 21 dos 27 países da União Europeia pertencem à Otan sob o comando dos Estados Unidos. O Conselho do Atlântico Norte, órgão político da Aliança, de acordo com as normas da Otan, toma decisões não por maioria, mas sempre “por unanimidade e de comum acordo”, ou seja, de acordo com o que foi decidido em Washington.

A participação das maiores potências europeias em tais decisões (excluindo a Itália, que até agora obedece geralmente se calando) acontece em geral por meio de negociações secretas com Washington sobre dar e receber. Isto implica um maior enfraquecimento dos parlamentos europeus, em particular aquele italiano, hoje já desprovidos de poderes decisórios reais em matéria de política externa e militar. Neste quadro, a Europa encontra-se hoje numa situação ainda mais perigosa do que aquela da Guerra Fria. Três outros países – Bósnia Herzegovina (antiga parte da Iugoslávia), Geórgia e Ucrânia (antiga parte da URSS) – são candidatos a entrar na Otan. Stoltenberg, porta-voz dos EUA antes que da Otan, declara que “mantemos a porta aberta e, se o objetivo do Kremlin é ter menos Otan nas fronteiras da Rússia, só terá mais”.

Na escalada EUA-Otan, que nos leva à beira de uma guerra em grande escala no coração da Europa, as armas nucleares entram em jogo. Daqui a três meses, começará a produção em série das novas bombas nucleares B61-12 nos EUA, que serão distribuídas sob o comando dos EUA na Itália e em outros países europeus, provavelmente também no Leste, ainda mais perto da Rússia. Além destas, os EUA têm duas bases terrestres na Europa, na Romênia e na Polônia, e quatro navios de guerra equipados com o sistema de mísseis Aegis, capaz de lançar não apenas mísseis antimísseis, mas também mísseis de cruzeiro com ogivas nucleares. Também estão preparando mísseis nucleares de alcance intermediário, para serem implantados na Europa contra a Rússia, o inimigo inventado que pode, no entanto, responder de forma destrutiva se for atacado.

Bomba nuclear B61-12, produzida nos EUA | Foto: Jerry Redfern/Reveal

A tudo isso soma-se o impacto econômico e social do crescente gasto militar. Na reunião de ministros da Defesa, Stoltenberg anunciou triunfante que “este é o sétimo ano consecutivo de aumento dos gastos de Defesa dos Aliados europeus, que aumentaram de 270 bilhões de dólares desde 2014”. Mais dinheiro público tirado das despesas sociais e aos investimentos produtivos, enquanto os países europeus ainda precisam se recuperar do lockdown econômico de 2020-21.

Os gastos militares italianos ultrapassaram os 70 milhões de euros por dia, mas não são suficientes. O primeiro-ministro Draghi já anunciou: “Devemos nos equipar com uma defesa mais significativa: é muito claro que teremos que gastar muito mais do que fizemos até agora”. Muito claro: vamos apertar o cinto para que a Otan possa se expandir.

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