O reitor descalço

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Roberto Crema, que nirvanou
ao fitar a lucidez
dos olhos de Pierre Weill,
virou reitor descalço:

tirou sapatos e meias
sem chocar a platéia inteira
pompa e circunstância
são valores que não guarda

Vive em profunda simplicidade
em seu amar a verdade
e defender a paz

Em cirandas de amizade
dança como criança
pois sabe a viagem do humano
é efêmera como um raio
na dança infinita da Vida

II

Um dia o causídico
perdido no labirinto
das demandas do ter
decidiu não viver
em tão próspera miséria
que incautos invejam

Assumiu o risco
de deixar a infelicidade crônica
uma freirinha, um anjo posto em seu caminho
ao ver que a tristeza de não ser ele mesmo
estava a mata-lo devagarinho,
vendo-o dizer que a psicologia o arrepiava,
disse: “Vai, menino! Vai fazer o que te arrepia!”.

Já sabendo que seria sublime,
o poeta de alma enluarada
foi lá e fez. E em seu reitorado
mantém-se eterno menino
a andar descalço
pelas veredas da Verdade

Hoje segue amando, e bem amado
em seu poder desarmado
de cirandeiro da paz.

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