O triste fim do ex-militante de esquerda

O que temos para pensar, de fato, é a motivação que leva este indivíduo a renegar sua própria história e passar a atacar as suas antigas posições

Foto: Thom Gonzalez/Pexels

Uma das coisas mais tristes que existe é o famoso caso do que poderia ter sido e não foi. Não faltam situações que exemplificam as pessoas que perdem o bonde da própria vida (ou até da história). Temos o caso do rapaz talentoso que poderia ser jogador de futebol, mas o comportamento fora de campo impediu, do prefeito que ia trazer uma universidade federal para sua cidade e na hora H brigou com um assessor do ministro e tudo deu errado…

Na política também temos estes casos, o sujeito que era militante, acreditava num ideal e largou tudo depois de um tempo se tornando inimigo de classe. Não faltam exemplos famosos: Miriam Leitão lutou contra a ditadura, foi filiada ao Partido Comunista e hoje se tornou uma famosa liberal, mesmo caminho seguido por Reinaldo Azevedo, que militou na antiga Libelu e foi um dos mais frenéticos críticos dos governos Lula e Dilma.

No dia a dia da militância isso também se repete: quem não conhece alguém que esteve à frente de um DCE ou de um sindicato durante um tempo e depois mudou de lado? Muitas vezes nem parece a mesma pessoa, assustando aqueles que conviveram com ela no passado ao ver em que se transformou.

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O que temos para pensar, de fato, é a motivação que leva este indivíduo a renegar sua própria história e passar a atacar as suas antigas posições. Para isso, temos algumas hipóteses que vale a pena refletirmos.

A primeira é o oportunismo. Neste caso, a pessoa nunca defendeu um mundo mais justo e solidário, na verdade ela queria mesmo era aparecer e fazer seu nome para assim que surgisse uma oportunidade sair fora de tudo e garantir o seu lado. Isso é o caso mais comum, não faltam exemplos na política. Quem nunca conheceu um ex-sindicalista que passou a defender o patrão depois que ganhou uma boquinha na empresa? Ou, no caso do serviço público, um carguinho na gestão?

A segunda é a necessidade básica. Este é um caso clássico da pessoa que não buscou conciliar o estudo ou trabalho com a militância e se deixou levar não formando na universidade, por exemplo. Na verdade, o sujeito projeta na organização que faz parte a sua frustração pessoal, ou seja, por não ter dado conta de conciliar a luta social com sua atuação, culpa a corrente política que faz parte por não o ter deixado, por exemplo, formar. É óbvio que nenhuma entidade pede isso para a pessoa, ela faz as suas opções e deve arcar com suas consequências como adulto que é. Neste caso, em geral o sujeito se revolta com tudo, sai da organização, acusa os que ficaram e se torna crítico a todos os militantes, acusando-os das mais diversas formas, é um caso clássico de frustração mal resolvida.

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O terceiro e último caso, a meu ver, é o que mudou de lado mesmo, deixou de acreditar. Esta é a pior situação, pois se convenceu que é comum a exploração do ser humano por outro ser humano. Aqui cabe se pensar: o que levou a pessoa a deixar de crer que é possível mudar a sociedade? A idade? A conta no banco? O leite das crianças? Enfim, entender este caso aqui para mim é o mais difícil, pois perpassa por uma opção individual em frente à sua ideologia, que pode ter mudado.

O que nos move a continuar seguindo firmes é que a cada 10 que deixam de acreditar, 100 buscam questionar a ordem dominante, se somando às fileiras dos que creem no sonho de um mundo mais justo, mesmo sabendo dos percalços e dos desafios, é preciso seguir adiante, afinal de contas, o que seria deste planeta se não fossem os militantes?

É triste ver tantos que poderiam ser, mas não foram, mas mais esperançoso ainda é percebermos que as sementes que plantamos vão aos poucos dando fruto, renovando a vontade de seguirmos trilhando o caminho da justiça social.

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