Obreras saliendo de la fábrica

“Obreras saliendo de la fábrica”, de José Luis Torres Leiva e “Adanggman”, de Roger Gnoan M’Bala

Filme "Obreras saliendo de la fábrica" | Foto: Divulgação

O cinema já deixou de ser somente um artesanato para a massa da população mundial. É uma arte para divertir e educar pessoas de modo distinto. Isso aconteceu principalmente pelo fato do cinema já não ser mais um instrumento de exibição coletiva, mas com toda a possibilidade da visão individual. E assim, os cineastas mais inteligentes também se ocupam com filmes que mostram um nível de sedução para o espectador culto.

Me refiro agora ao curta-metragem de 21 minutos de duração do cineasta chileno José Luis Torres Leiva, que estou conhecendo agora com esse filme. É um produto cultural principalmente irônico, inclusive a partir do título que aproveita um dos títulos mais antigos do cinema, Operários saindo da fábrica, dos irmãos Lumière, feito quando o cinema ainda não era uma arte narrativa.

O cineasta Torres Leiva conta a estória de quatro senhoras ou moças chilenas que trabalham numa fábrica e são amigas. Quando saem do trabalho, resolvem, ao invés de ir para casa, ir direto para a praia, com a própria roupa que estão vestindo. A linguagem do curta é seca e não tem mesmo vontade de divertir o espectador. Mesmo com somente esses 21 minutos, o diretor quis fazer cinema para cutucar o espectador do ponto de vista intelectual. Nada de diversão.

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O realizador certamente utilizou quatro moças verdadeiramente obreras de fábrica, e temos os nomes delas: Paulina Chamorro, Julieta Figueroa, Sybila Oxley e Diana Sanz. Eu encontrei esse filme na plataforma Making Off que é independente realmente, e coloca à mostra muitos filmes que pouco conseguem espaço para exibição. O cinema precisa disso, e assim fugir aos filmes simplesmente feitos para grande público ligados à indústria hollywoodiana.

Além de não ter diálogos, também não tem música chamada de acompanhamento. O som vem como algo inteiramente natural acompanhando as cenas. E desse modo a ação das intérpretes se torna mais forte e densa, conseguindo transmitir a emoção que faz pensar e não sentimento superficial.

Olinda, 14. 05. 22

Adanggman: beleza e tragédia africana

Filme “Adanggman” | Foto: Reprodução

O cinema nos chega hoje por muitos lugares, e assim vamos nos encontrar com um filme como este, “Adanggaman”, que pode ser visto pela plataforma Making Off. Um belo filme feito na África por africanos, mas com produção coletiva da França, Suíça, Costa do Marfim, Burkina Faso e Itália. Esse coletivo se faz em torno do capital necessário para a produção, mas do ponto de vista da realização é realmente uma produção africana.

“Adanggaman” tem a direção do cineasta Roger Gnoan M’Bala. A estória é em torno da vida africana nos fins do século XVII, quando ainda imperava a escravidão com a venda de africanos. O Rei Adanggaman fazia tráfego de negros e assim mandava seus vassalos prenderem homens e mulheres de outras aldeias próximas para vendê-los. O filme mostra essa realidade histórica, mas de uma forma inclusive poética. E o que é fundamental, com muita beleza na imagem. O mais importante desse filme é que o espectador fica assistindo às cenas não como tragédia, mas como realidade poética.

A equipe traz atores profissionais, inclusive quem representa o personagem central é um ator conhecido no Brasil, Rasmane Quedraogo. Tudo é narrado através do canto e da encenação plástica. E quem gosta e quer ver mais da cultura arte africana, verá nesse filme.

Os diálogos são realizados numa língua africana Bambara, e às vezes em francês, mas os diálogos são simples, sucintos, e você pode dispensar a leitura de legendas, o que dá mais efeito plástico dramático à produção.

O diretor Roger Gnoan M’Bala conseguiu não simplesmente contar uma história, mas construir uma espécie de musical onde a música é mesmo formada pelos sons naturais e pela musicalidade da cultura negra.

No final, tem um adendo onde um historiador inglês comenta o acontecimento histórico em torno da escravidão mantida por anos na África, inclusive para o Brasil.

Olinda, 24. 05. 22

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