Lula precisa rever o esquartejamento da Petrobras

Para o geólogo Guilherme Estrella, discutir a Petrobras é discutir o Brasil como ocupação colonial estrangeira, desde que a Petrobras foi esquartejada em 2016 e vendida ao capital internacional na forma da BR Distribuidora, os gasodutos e refinarias.

Centro de Distribuição da Petrobras no Terminal Terrestre da empresa, em Brasília

O geólogo Guilherme Estrella defendeu no Seminário “O Desmonte do Setor de Energia – Petrobras e Eletrobras – e os Caminhos para a sua Reconstrução” que não adianta apenas eleger um governo popular para atacar a questão da inflação dos combustíveis, se não forem revistas uma série de mudanças que transformaram a Petrobras num “arremedo de estatal”.

O Seminário foi promovido pela Fundação Maurício Grabois, através da Cátedra Claudio Campos. O debate aprofundou o tema da crise do setor energético e os desafios para a sua recuperação.

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Guilherme Estrella

Estrella começou apontando as enormes riquezas geológicas do país que apontam o Brasil com um grande destino nacional. Em seguida, mostrou como o imperialismo norte-americano e europeu disputaram recursos energéticos desde o século XIX, enquanto o Brasil ainda era movido à energia da mão de obra escrava.

A energia elétrica, a partir do potencial hídrico, foi toda importada da indústria americana. É com Getúlio Vargas que começa um processo de industrialização com atenção estratégica à questão energética. Ele descreve as turbulências golpistas desde o período getulista, com a estruturação da Petrobras, a partir da ótica da disputa internacional pelos recursos energéticos brasileiros. 

Conforme lembra ele, com o fim do socialismo soviético no leste europeu, o Consenso de Washington estabeleceu entre as obrigações dos países em desenvolvimento a privatização de todas suas estatais. Com Collor, Itamar e Fernando Henrique, as estatais começam a ser privatizadas em grande escala.

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Acaba o monopólio estatal da exploração do petróleo, abrindo as bacias brasileiras à exploração estrangeira. Com a roupagem de fundo financeiro, a Petrobras passa a não querer mais correr riscos, como ocorreu com a interrupção no poço de Libra pela Shell, apesar de já se saber que havia petróleo sob o sal.

Com o governo Lula, há a decisão política da Petrobras assumir o papel hegemônico no setor de petróleo e gás, observa o geólogo. Paralelamente, havia a decisão de integrar a Petrobras num sistema único, ao contrário da fragmentação do período FHC. Com a desconcentração da exploração em Campos, foram descobertos novos campos de pré-sal em outras regiões.

Com o golpe de 2016, a Petrobras é esquartejada e vendida ao capital internacional na forma da BR Distribuidora, os gasodutos e duas refinarias. Para Estrella, discutir a Petrobras é discutir o Brasil como ocupação colonial estrangeira.

Como sair dessa? Em sua opinião, não adianta eleger o presidente Lula sem a firme disposição e contundente intenção de rever tudo que foi feito com a Petrobras. Para ele, não adianta assumir a gestão desse arremedo de estatal desmontado em sua capacidade de exploração produção, distribuição, refino, gasodutos, biocombustíveis, fertilizantes e termelétricas como um sistema.

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Com atuação na Petrobrás de 1965 a 1994, os cargos mais importantes de Guilherme Estrella foram gerente de Exploração da Costa Leste Brasileira, gerente de Exploração e Produção da Braspetro Iraque, diretor de Exploração e Produção e superintendente Geral do Cenpes (Centro de P, D & E da Petrobrás). Ele ainda é doutor honoris causa pela Universidade do Porto (Portugal) e Universidade Federal de Ouro Preto (MG), laureado com a Medalha de Ouro Pandiá Calógeras e o Prêmio Dewhurst do Conselho Mundial do Petróleo. Além de membro da Academia Nacional de Engenharia – ANE (Brasil) e da National Academy of Engeenering (NAE) dos EUA, Estrella é atualmente membro do Conselho Diretor do Clube de Engenharia e do Conselho Curador da Fundação Gorrceix da Escola de Minas da UFOP-MG.

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Seminário

O caso da Eletrobras será tematizado, especificamente, no seminário da próxima segunda-feira (30), quando serão reunidos elementos sobre a situação da empresa, para organizar a defesa durante a campanha e sua reconstrução posterior.

As exposições sobre o setor elétrico serão feitas pelos engenheiros Roberto D’Araújo, Íkaro Chaves e Ildo Sauer, dos economistas Aurélio Valporto e Clarice Ferraz, e do médico Sergio Siqueira da Cruz.

Além de conhecedores da real situação dessas duas empresas, os pesquisadores tiveram a experiência de dirigir ou trabalhar nelas ou na agência reguladora (caso da Petrobras).

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Assista a exposição de 23 minutos de Estrella, abaixo, a partir de 30 minutos:

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