Olhos nos olhos

“Olhos nos olhos/quero ver o que você diz…”, canta Chico Buarque. O olhar “fala”, por isso incomoda tanto conversar com alguém que desvia o olhar – não inspira confiança, semeia a dúvida; e tanto agrada o diálogo com quem nos encara de frente – passa sinceridade.

“Você é um dos poucos que têm coragem de olhar a gente nos olhos”, tenho escutado de muitos a quem entrego, no início da manhã, acompanhado de assessores e militantes, o boletim impresso com a prestação de contas do meu mandato.

Em cruzamentos movimentados da cidade – alguns dos que freqüentamos na campanha eleitoral – somos dez, doze ou mais a abordar transeuntes e condutores de veículos que param diante do semáforo. A receptividade é extraordinária. Um diálogo breve, sempre instigante. Perguntas sobre a cidade. Expressões de indignação contra atos ilícitos praticados por detentores de cargos públicos. Manifestações de esperança. E palavras de estímulo e confiança.

Um gesto coletivo, um ato de confiança mútua. Dentre os militantes participantes da atividade, três são ex-candidatos a vereador pelo PCdoB no último pleito, que não obtiveram êxito – Eufrásio Elias, Waldemes Ferreira e Audísio Costa. Sinal de que o mandato reflete a natureza partidária dos compromissos assumidos perante o povo da cidade e do caráter coletivo do trabalho realizado em função desses compromissos.

Eufrásio Elias, 85 anos, militante comunista desde 1954, é um autêntico ícone do movimento popular no Recife.

De outra parte, em contato direto, nas ruas, pelo e-mail [email protected] e pelo Twitter http://twitter.com/lucianoPCdoB, recebo comentários acerca do gesto praticado e do conteúdo da prestação de contas. E por aí também se dá a troca de opiniões e a cooperação mútua entre o vereador e o habitante da cidade – o que só contribui para que o exercício do mandato se faça mais produtivo e corrija insuficiências.

Quem sabe atitudes como essa possam servir para atenuar uma lacuna no processo político-eleitoral: o eleitor vota e pouco se interessa em acompanhar o desempenho do parlamentar que ajudou a eleger. E até se surpreende, adiante, com os bons resultados ou mesmo, em alguns casos, quando se decepciona.

O parlamentar, por seu turno, comumente sente-se livre da cobrança e da avaliação crítica coletiva e contenta-se em alimentar tão somente o relacionamento com lideranças e apoiadores mais próximos.

A prestação de contas pública e o convite à avaliação crítica pela população, independentemente de preferência partidária ou eleitoral, revelam-se uma alternativa mais democrática e eficaz.

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