Os BRICs e a nova geopolítica científica mundial

No último final de semana, representantes do Brasil, Rússia, Índia e China estiveram reunidos em Brasília. Em pauta, um novo reordenamento mundial de ordem política, econômica e, por que não afirmar, científica.

Com exceção da Rússia – que ao apartar-se do socialismo viu sua antes vigorosa e relevante produção científica despencar -, Brasil, Índia e China apresentam-se como detentores de dados impressionantes na ciência nos últimos anos. Mais uma prova cabal de que ciência nacional e desenvolvimento econômico são indissociáveis.

Os países do BRICs, como mostra o Jornal da Ciência (JC) publicado no dia 12 de fevereiro último, “tiveram sua produção científica analisada de 1981 a 2008 e o resultado mostra que a China deu um salto na publicação de artigos, enquanto a outrora poderosa Rússia tem decaído no cenário internacional de pesquisas. Brasil e Índia, por sua vez, dão passos largos, ainda que insuficientes para acompanhar o ritmo chinês, que pode desbancar os EUA como maior potência científica em breve”. Esses dados são da Thomson Reuters, a empresa que controla a base de dados International Science Information (ISI).

O estudo mostra que o tamanho da produção científica brasileira cresceu dez vezes no período analisado, passando de dois mil para 20 mil artigos, com uma forte tendência de alta. Na China, no mesmo intervalo, a quantidade de publicações saltou de praticamente zero para mais de 110 mil artigos, sendo que, de 2004 para 2008, o número dobrou. A Índia foi de 14 mil para 29 mil, enquanto a Rússia caiu de 29 mil para 22 mil. Não é por acaso que os BRICs tenham respondido por mais de 50% do crescimento global nos últimos anos.

Quando esses dados seriam possíveis no tempo em que mantínhamos relações preferências com os EUA? Os BRICs, a despeito da oposição de direita e seus grandes meios de comunicação, estão calando a boca de muita gente, inclusive do pensamento arrogante neoliberal de que nunca teríamos competência para produzir ciência de ponta sem seguir a cartilha do Tio Sam. Os números falam por si só.

Ainda segundo os cálculos da Thomson Reuters, “mantido o ritmo, em sete ou oito anos os indianos estarão produzindo tantos artigos quanto os cientistas dos oito países mais ricos do mundo e, entre 2020 e 2025, os ultrapassarão. A China, se mantiver o atual ritmo de crescimento, deve deixar os EUA para trás como maior produtor de papers do mundo nos próximos anos.”

Esses dados, longe de serem fortuitos, revelam a importância da ciência como ferramenta estratégica no desenvolvimento das forças produtivas conferida pelo Estado Nacional. Ciência é poder. Tanto é verdade que no auge da sua crise, a proposta orçamentária dos EUA para o ano fiscal de 2011 poupou a área de ciência e tecnologia dos cortes de gastos, pois o setor é considerado essencial para a recuperação econômica do país.

Importante destacar que a política científica do PSDB, por essência, é diametralmente oposta a da adotada nos dois governos do presidente Lula, com grande participação dos partidos aliados, principalmente PSB e PCdoB. Durante o governo FHC não saímos do lugar e a lógica era de que para o país seria melhor e mais barato comprar a tecnologia pronta de fora a investir em ciência nacional, própria. Pagamos caro por esses oito anos de governo tucano, com reflexos diretos na economia.

Nesse ano de eleição, devemos ter consciência de qual é a inserção que queremos dar à ciência nacional no concerto das nações. Projetos diferentes estão em pauta. Ou continuamos avançando junto àqueles países que reivindicam uma nova ordem mundial ou retrocederemos a ponto de mais uma vez viver um tempo em que as nossas universidades e institutos de pesquisa sequer davam conta de pagar suas contas de luz.

Fonte: Jornal da Ciência. 12/02/2010. p.9. n° 660. Rio de Janeiro/RJ.

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