Os cães ladram, mas a caravana não para

Depois de muita briga jurídica e política, a Rede, partido político criado para não ser partido (?) de Marina Silva conseguiu se registrar no TSE. Mais uma das agremiações políticas que se formam e tentam se registrar todos os anos no nosso país.

O Novo, que se declara liberal e quer ser o primeiro a se colocar notadamente de direita (como se o DEM e o PSDB assim não fossem), o PMB (Partido Militar Brasileiro) e agora a Rede devem ser as novidades da próxima eleição de 2016.

Tanto Novo como PMB, tem tudo para ser apenas mais uma sigla na sopa de letrinhas que os eleitores pouco compreendem no jogo de poder municipal que se aproxima. Entretanto, a Rede queria ser mais que isso.

Como avaliado por mim a mais de um ano aqui mesmo no Vermelho, o partido de Marina não tinha (e não tem) nada de novo, mesmo antes de cometer o seu “entrismo” no PSB. Sabendo-se que esta sigla não apresenta novidade nenhuma no campo ideológico, por que então Marina e sua turma tanto buscaram seu registro ao invés de simplesmente “herdar” o PSB depois da morte de Eduardo Campos?

O primeiro dos motivos é aparecer na mídia e criar um fato que a coloque de novo nos holofotes depois de tantos passos em falso na última eleição, haja vista que o eleitor que votou nela no primeiro turno buscando uma “cara nova” não ficou muito satisfeito em ver seu apoio a Aécio Neves e ao PSDB no segundo turno.

Outro motivo importante se dá no fato da Rede não ser “nem de direita e nem de esquerda”, essa maneira de apresentar o partido como se fosse uma ONG, é uma estratégia que Marina vem fazendo desde que saiu do PT. Na prática isso serve para duas coisas: a primeira é tentar se diferenciar das agremiações tradicionais (por isso não tem no seu nome a palavra “partido”, como a maior parte dos outros) e a segunda é oferecer casa nova para parlamentares e candidatos historicamente de esquerda insatisfeitos em suas legendas e que podem mudar de casa sem perder o mandato.

Foi o caso de dois deputados federais (Aliel Machado do Paraná e Alessandro Molon do Rio de Janeiro) e um senador (Randolfe Rodrigues do Amapá). Obviamente que aqueles que acompanham política ficaram surpresos com a decisão destes, especialmente dos dois

deputados, afinal de contas Aliel e Molon saíram de partidos da base do governo para serem “independentes”.

Os três, ao fazerem uma análise meramente eleitoral, se esqueceram de algumas lições que podem fazer muita diferença em suas próximas eleições: PC do B, PT e PSOL, os respectivos partidos de cada um deles, possuem grande militância e participação social. Achar que foram eleitos simplesmente porque são “bons de voto” pode custar caro a cada um, muito caro. A Rede não possui a militância e participação social que estas outras legendas, esta análise simplista pode significar o último mandato de cada um.

Analisando o caso de Molon no Rio de Janeiro, fico com a sensação de saída à direita, pois lançar-se pré candidato a prefeito do Rio de Janeiro coloca em xeque as reais chances de eleição de Marcelo Freixo do PSOL, pois Molon pode, perfeitamente dividir o eleitorado de esquerda na cidade, garantindo ao grupo de Pezão e Paes a continuidade de seu comando na prefeitura.

Aliel é um caso ainda mais emblemático. Alegando falta de espaço em um partido que só tinha um parlamentar no Paraná (o próprio Aliel), este vai ter que construir um partido que ainda não existe.

Seja para ser candidato a prefeito de Ponta Grossa, sua terra natal, ou para poder votar como quiser, sem seguir o direcionamento de seu ex-partido, PCdoB, pois sua avaliação pode perfeitamente ser que votar a favor do governo é ruim para sua imagem perante o eleitorado, o risco é grande demais, com chances reais de não se reeleger na Rede na próxima eleição se não conseguir criar um esqueleto de candidatos nesta nova sigla.

O deputado paranaense, talvez pela sua juventude (21 anos), pode ter cometido o seu suicídio político, pois historicamente o eleitorado do PCdoB tende a ser dele, não somente do parlamentar, só observar o caso do já falecido e ex-deputado federal de Minas Gerais Sérgio Miranda, que depois de quatro mandatos como deputado federal nunca mais se elegeu quando saiu da agremiação comunista.

Obviamente que para a base do governo perder dois parlamentares para uma sigla sem ideologia e sem lado é uma perda ruim, ainda mais para os comunistas que possuem agora somente 12 deputados federais, entretanto isso não significa um grande prejuízo para o governo, afinal de contas, estas opções fazem parte da democracia.

Respeitar as opções de ex-companheiros de trincheira é importante, mas concordar jamais, achar que PT e o PCdoB são partidos que podem ser comparados a um que acabou

de chegar (Rede) é no mínimo irrisório. Adaptando-se o velho Lênin aos dias atuais, é perfeitamente correto pensar que o país na busca por mudanças reais e aprofundamento da democracia funciona como um trem, onde muitos passageiros entram e outros saem, faz parte da viagem, o que não pode parar nunca é o trem. Esse não parou, e não vai parar afinal os cães ladram, mas a caravana não para!

Até a próxima!

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