Os comunistas e as eleições

Estamos a tratar de acumulação de forças no campo do proletariado e da construção da hegemonia política de seu partido, tanto na classe, como em amplos setores da sociedade

Foto: PCdoB

Estou a ler o livro de meu camarada em amplo sentido, Rodrigo de Carvalho: O governo Lula e a mídia impressa – construção de um pensamento hegemônico. Estou pelos começos, mas já gosto do que leio.

Não venho aqui, por óbvio, comentar o mais novo lançamento de meu parceiro de lides partidárias. A menção ao livro se deve a um trecho que despertou neste escriba uma inquietação. Cito: “O Brasil tornou-se uma das maiores democracias liberais do mundo, com leis mais amplas que permitem a participação popular em processos eleitorais”.

Sustentam essa conclusão do autor argumentos por ele mesmo dispostos ao longo do texto e uma tabela. Não vou reproduzir aqui a tabela, fiquem tranquilos. Em pitadas, aponto os argumentos: O Brasil detém o título de o quarto maior eleitorado do mundo; quatro entre cinco brasileiros, em média, comparecem às seções eleitorais para apertar “branco” ou “confirma”; a urna eletrônica fez aumentar os votos válidos em candidatos a parlamentos. Do que se conclui que, na quadra histórica de redemocratização iniciada em 1985, o processo eleitoral assume, no Brasil, centralidade nas disputas políticas – e, acréscimo meu, na luta de classes.

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E nesse acréscimo é que reside a inquietação: na quarta maior democracia do Planeta, onde é grande a participação do povo trabalhador no processo eleitoral, e as eleições são pauta central da vida política a cada dois anos, impossível não pensar as implicações disto na luta de classes – tanto para o proletariado e seu partido, quanto para os diferentes setores das classes dominantes tupiniquins e suas agremiações.

Sendo as eleições o dínamo da presente vida política nacional, como pode um partido, burguês ou proletário, não estar orientado para a disputa do voto? Ora, o voto não é um mero número que se usa em barganhas; tampouco mostra de superioridade da democracia burguesa ante a democracia socialista. O voto, no Brasil do ciclo político cujo marco inicial é 1985 e que resiste até hoje, é expressão da inserção social de uma dada força política, representativa de uma classe, ou segmento de classe, por intermédio de suas ideias e ações.

No caso do Partido Comunista, expressão e representação do proletariado e das classes trabalhadoras, essa inserção, por meio de suas ideias e política, é medida pela extensão e profundidade de sua presença e organização na base da sociedade em que atua, fundamento de seu prestígio e força política junto à sua classe e a distintos segmentos sociais e suas correntes representativas.

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Logo se vê que estamos a tratar de acumulação de forças no campo do proletariado e da construção da hegemonia política de seu partido, tanto na classe, como em amplos setores da sociedade. Essa acumulação é, a um só tempo, e ao que parece, produto e móvel da presença e organização dos comunistas nas diferentes dimensões da vida nacional. Sabemos que um partido, ainda mais se for comunista, constrói-se, por meio de sua política revolucionária, no curso real, concreto, da luta política. Sobretudo se as massas participam grandemente desta luta política real, concreta.

Se o que diz meu camarada Rodrigo está correto (e acho que está) – que as eleições estão no centro das lutas políticas do País –; e se também tem legitimidade o que disse eu sobre a disputa do voto ser pauta irrecusável do curso concreto e presente da luta de classes, pode-se concluir que os comunistas e demais forças avançadas devem estar, na democracia liberal, permanentemente ocupadas e preparadas para as disputas eleitorais, tendo-as como terreno privilegiado de luta.

Muitos perguntarão, “sujeito, e as lutas sociais?!”. Outros, “cidadão, como devem os comunistas participar desta briga pelo voto”?

Preclaro leitor, digníssima leitora: Hoje, só semana que vem.

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