Para que serve a Quarta Frota?

Repercutiu amplamente na imprensa grande a decisão dos Estados Unidos de reativar a sua Quarta Frota, que cuidará prioritariamente da América Latina e Caribe.

Meus leitores sabem que devo concentrar minhas atenções no Oriente Médio. Mas, além da posse do governo libanês com 11 ministros do Hezbolláh – da qual já comentamos – e da troca de prisioneiros entre esse grupo e Israel – também já repercutido nesta coluna semanal – a Quarta Frota vem galvanizando opiniões debates acirrados. E terá repercussão nas disputas do Golfo Pérsico, que também tratamos na semana passada. Vamos a ela.


 


 


Um pouco de história


 


 


As frotas navais são uma espécie de menina dos olhos de países costeiros, que precisam proteger seu mar territorial. Isso vem sendo assim desde a remota antiguidade desde quando se conquistou a navegação costeira e posteriormente marítima. Claro, sabemos que em processo de guerra, os exércitos são fundamentais para a conquista e a ocupação territorial. Mas, a marinha de guerra joga papéis decisivos nessas conquistas.


 


 


Os Estados Unidos possuem o maior e mais poderoso exército da terra. Suas forças armadas combinadas, que ultrapassam a dois milhões de soldados, espalhados em todos os continentes, são as que detêm os maiores e mais sofisticados equipamentos, a maior tecnologia, o melhor treinamento e seus soldados – todos profissionais – são os melhores remunerados no planeta.


 


 


No caso das suas frotas navais, elas sempre foram sete ao todo. A Primeira Frota é a mais antiga, histórica, esta praticamente desativada. A polêmica da Quarta funcionou entre 1943 e 1950, mas acabou sendo desativada. As outras se encontram no momento nas seguintes localidades: Terceira – Norte e Leste do Pacífico; Segunda – resto do Atlântico Norte, costa Leste dos EUA e Oeste da África; Quinta – fica constantemente no Golfo Pérsico vigiando o estreito de Ormutz; Sexta – No mar mediterrâneo e a Sétima – Oeste do Pacífico e todo o Oceano Índico. Essa é a distribuição das frotas navais estadunidense.


 


 


Já se falou do potencial que essas frotas navais possuem. Não só em termos de armamentos nucleares, tecnologia, mas todo o aparato que ela desloca no mar. Pela média, cada frota naval dessa leva até 120 aviões, até 60 tanques, três submarinos nucleares, 12 navios de escolta (cruzadores, contratorpedeiros ou destróieres). O mais surpreendente é a sua capacidade de bombardeio. Sabe-se que qualquer ponto na terra, em nosso planeta, pode ser atacado por um avião americano em até 90 minutos, saindo de um porta aviões, que são as naus capitânias das frotas navais. Um ataque dessa natureza, ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, poderia ocorrer sem que uma aeronave supersônica americana precisasse aterrizar em terra ou reabastecer. Levanta-se vôo, ataca-se e volta-se à base, no porta aviões nuclear!


 


 


Para que a Quarta Frota?


 


 


A sede central dessa frota será na cidade portuária de Maryland. Ainda que a frota não esteja completa em sua formação total, nessa cidade existem pelo menos 21 grandes navios estacionados e seis esquadrões de helicópteros da marinha americana. A Frota, do ponto de vista operacional, deverá estar subordinada ao Comando Sul dos Estados Unidos (United States Southern Command). O novo comandante dessa frota será o contra-almirante Joseph Kernan, que antes havia chefiado as chamadas Forças SEAL, especializadas em missões antiterroristas e especiais.


 


 


A América Latina vive uma onda progressista. Após a onda neoliberal que quase devastou o subcontinente, temos presenciado diversas vitórias de governos progressistas em vários países da região. Alguns mais à esquerda, outros mais de centro esquerda, mas, a verdade é que o povo latino-americano vai dando um basta ás privatizações, à precarização do trabalho, às demissões, aos desmandos e ao autoritarismo por aqui vividos por décadas seguidas.


 


 


Além disso, temos as recentes descobertas dos mega campos petrolíferos na costa brasileira, há mais de 300 quilômetros mar adentro e abaixo do plataforma continental, em áreas que os técnicos vêm chamando de “pré-sal”. As reservas estimadas e inferidas da bacia de Santos, de Campos e algumas outras no Nordeste, podem colocar o Brasil no mesmo patamar das chamadas “Sete Irmãs” da indústria do petróleo, podendo ficar entre as três maiores do planeta. Alguns técnicos e especialistas afirmam que poderemos ter aumentado nossas reservas em até 50 bilhões de barris de petróleo, quase cinco vezes o total hoje.


 


 


Com o processo de reativação, a gritaria foi geral. O presidente Lula questionou a necessidade da reativação da Quarta Frota. Para que isso, indagou Lula. O presidente estranhou a necessidade disso e relacionou imediatamente às descobertas de petróleo no Brasil.


 


 


Alguns especialistas chegam a afirmar que essa Quarta Frota seria para dar sustentação a alguma ataque ao Irã que seria feita a partir da Quinta Frota do Golfo Pérsico. Em no máximo 16 horas, as embarcações seriam deslocadas da América Latina e caribe para o Golfo.


 


 


A repercussão da reativação da Quarta Frota foi imensa. Não só o presidente Lula questionou, mas também Hugo Chávez e Evo Morales, da Venezuela e Bolívia, entre outros presidentes sul-americanos. Todos questionaram as intenções dos Estados Unidos e duvidaram dos propósitos “pacíficos” alegados pelos americanos.


 


 


De minha parte, tenho claro que os propósitos são claramente intimidatórios. São recados, sinais eu os EUA enviam a todos nós, de que estão atentos ao desenrolar dos acontecimentos políticos do subcontinente. Uma clara ameaça no ar contra todos os nossos povos. Como já se disse, uma império em sua fase de decadência, vai ficando cada vez mais agressivo e mais guerreiro. De nossa parte, devemos nos precaver, denunciar, usar nossa diplomacia para desmascarar as “boas intenções” dos americanos, que escondem suas verdadeiras intenções de manter a sua dominação de todos os nossos povos. Mas, serão derrotados em seus objetivos.


 


Nota


 


(1) Para escrever a presente coluna, uso como fonte de consulta, as reportagens intituladas “Reativação da 4ª Frota aguça sentimentos antiamericanos” e “Reação negativa surpreende os EUA”– Estadão de 13/7/08; “Sob polêmica, EUA reativam a Quarta Frota” e “Brasil questiona americanos sobre Frota” – Folha de 13/7/08; “O império contra-ataca” – Le  Monde Diplomatique nº 11 – Junho de 2006.

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