Pra Não Dizer que Não Falei de Pipas

Eu os conheci com o nome de papagaios. Mais tarde, soube que também os chamavam cometas. Posteriormente, soube que também os chamavam de pipas. Já vi muita pipa bonita, como aquelas que minha amiga Mary viu no Autódromo de Interlagos, há vinte e poucos anos!

Ela me falava das pipas em forma de dragões, de águias, de araras, de jacarés, de aviões…

Emocionou-se também com uma mini pipa, de 10 centímetros de envergadura. Ela os conhecia das revistas que colecionava! Quem foi ela? Ah, a Mary, colega que trabalhou comigo por mais de dez anos no escritório da empresa metalúrgica e que, na sua segunda semana de aposentadoria, foi com o sobrinho descobrir o mundo das pipas. O calor era forte; a aragem fraca. Seu sobrinho corria de um lado ao outro. Ela desistiu de acompanhar aquele garoto de doze anos, pois, sessentona, cansou-se de deslocar pelos meandros do autódromo, acompanhando o sobrinho. Sentou-se num dos barrancos. A dor no peito. Tudo se fez escuro. Cadê o Lindolfo? Foi amparada pelos seguranças, que a levaram ao posto médico.

Lá, Mary sentiu-se mais leve! Uma brisa fresca soprou-lhe os cabelos brancos e a fizeram subir, tal e qual uma pipa. Ali estava ela, entre aquela imensidão de pipas, de todas as cores e tamanhos. Uma profusão de luz. Subiu mais um pouco e acordou cabeça colada no colo do Criador. Nunca mais a vi. Soube do passamento meses depois. Hoje, Mary Morais é apenas um nome de uma Escola Estadual, num bairro de São Paulo. Em mim, deixou o encantamento que tenho pelas pipas. Coisa de criança, que agora passei a admirar. Uma pipa sobe aos céus, ajudam a enfeitar os céus, produzem sorrisos nas crianças, mas também deixam sua ligação com a terra, pois ela se sabe sustentada por um sonho de um garoto, seja ele de doze ou de sessenta anos de idade.

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